Monday, December 29, 2008

A saga de um povo

"-Menino o quê, infeliz, que diabo você está vendo aí? Você está vendo alguma coisa aí? Tem um buraco aí?
-Tem, tem bem em riba de meu olho direito, bem em riba, tem um negócio piscando lá dentro! Menino!
-Tem um negócio piscando?
-Tem. Não! Parou de piscar! menino! Virsantíssima! Nossa Senhora do Perperssocoro! Tudo alumiado! Menino!
-Deixe de ser colhudeiro, Nonô, você não está vendo nada aí, está vendo coisa nenhuma! Saia daí para eu ver também.
(...)
-Eu estou vendo o futuro!
-vendo o futuro? O futuro como?
-Não sei, só sei que é o futuro, é uma coisa que tem aqui que mostra que é o futuro.
-Que coisa é essa?
-Não sei dizer, é uma coisa.
-Ora, deixe de querer fazer os outros de besta, você não está vendo futuro nenhum, não está vendo é nada.
-Estou, estou, estou!
-Então diga que bicho vai dar amanhã, que bicho vai dar?
-Não é esse tipo de futuro que eu estou vendo. É como se tivesse aqui uma voz me cochichando para explicar o que tem lá dentro, mas não tem voz nenhuma, porém tem. Menino!
-Que é que você está vendo agora?
-Ladrão como um corno! Ladrão pra dar de pau, ladrão e mentiroso por tudo quanto é lado!
-Muito ladrão aí?
-Chi! Chiiii! Nem me fale! E tudo muito bem trajado, uma finura!
-Trajado como, de terno, de duque, de colete e gravata?
-De duque de diagonal, terno de gabardine, gravata de seda, alfinetes de brilhantes, botuaduras de péurulas, sapato de sorcodilo, água de cheiro de subaco de vintes conto a gota! Isso quando é paisano.
-Tem ladrão fardado?
-Nimifales! Jesus Cristo, ói cuma tem! Menino!
-Tudo entrando nas casas e metendo a mão em tudo dos outros?
-Que nada! eles nem toca no dinheiro, tudo tem uns cartãozinho, o dinheiro não tem nome de dinheiro.
-Que nome tem o dinheiro?
-Todo tipo de nome. É verba, é dotação, é uma certa quantia, é age, é desage, é numerário, é honorário, é remoneração, é recursos alocado, é propriação de reculso, é comissão, é fis, é contiprestação, é desembolso, é crédio, é transferência, é vestimento, é tanto nome que se eu fosse dizer nunca acabava hoje e tem mais coisa pra ver. Dinheiro mesmo é que ninguém fala, todo mundo tem vergonha de falar que quer dinheiro.
-Vergonha de dinheiro aí?
-Grande vergonha! Todo mundo manda o dinheiro para fora e tem tanto acanhamento que, quando alguém conta que eles mandaram o dinheiro para fora, eles ficam acanhados e mandam prender esse dito certo alguém e , se esse dito certo alguém continuar falando do dinheiro que eles malocaram, eles mandam matar esse dito certo alguém!
-Muita gente morta aí?
-Chiii! Tem uma bomba que não deixa a alma do vivente nem sair, torra a alma também. Tá escrito aqui: nada nun suferfife a uma prosão telmonucreá, nem as arminhas, as alminhas!
-Botaram a bomba aí?
-Botaram não, tão querendo botar, que é pra garantir a paz. Se ninguém se comportar, morre todo mundo, morre até as alminhas no telmonucreá!
-mas então ninguém morreu ainda, pode morrer mas não morreu.
-Morreu sim! Tá morrendo! Tem um menino aqui de oito anos que está carregando a irmã de dois anos que um americano deu um tiro sem querer, depois que outros americanos jogaram uma bomba na casa do pai dele sem querer, na hora que os americanos entraram para invadir a terra dele para salvar ele, só que não sobrou ninguém, ficou tudo salvo. Tem genet morrendo também de todo jeito, morrendo de muita fome, cada menino magro que parece taquara, tudo os aribus vindo para comer. Muito aribu gordo!
-Não tem comida aí, não?
-Não, comida tem, tem até demais. tem um pessoal louro musturando leite em pó no macadame da avenida, para ficar mais macio. Tem gente tocando fogo em pinto e afogando o pinto que faz gosto, tem gente matando ganso só pra tirar o figo, tem gente pagando para o homem não plantar que é para não ter comida demais e o preço não descer, tem gente querendo capar os outros para os outros não fazer filhos que possam comer a comida que se joga fora, tem coisa que Deus duvida aqui! tem subola e alho jogado no rio, veja você, subola e alho! Depois que eles joga no rio, eles compra outra vez, só que no estrangeiro, que é para o estrangeiro respeitar ele.
-Muito estrangeiro aí?
-Poucos, mas tudo mandando, uma coisa por demais. O sujeito gosta de uma coisa, ele vem e diz que o sujeito não gosta e manda o sujeito gostar de outra, porém com arte. O estrangeiro manda, porém não é o estrangeiro, é o dinheiro. O dinheiro manda.
-Muito dinheiro sobrando aí?
-Chiiii! Mas tudo na mão deles!
-E pra que serve esse dinheiro todo?
-Pra tudo! Você não sabe o que ele faz!
-Que é que eles fazem assim, menino?
-Ah, eles mata, eles furta, eles rouba, eles mente, eles manda e desmanda, eles pinta o caráio e nada acontece com eles. Pense aí numa coisa, que eu lhe digo se tem aqui. Pense numa coisa bem ruim aí.
-Estão matando pai de família?
-Nem lhe conto! Chiiii! Ave Maria! Chiiii! E tem ninguém podendo sair na rua, menino? Tudo saindo, tudo morto à bala!
-Criança aí, estão matando?
-Mas que é uma liquidação, esse menino! Parece mosca no vinagre! Eta, que desgraça, que desgraça, ai meus olhinhos!
(...)
Os outros, mesmo que quisessem responder, não poderiam, porque, com um grito que jamais pensara dar, batata puxou a mão da parede em que a encostara, ao sentir escorrer sobre ela um caldo espesso e quente, um caldo vermelho e ardente, um caldo semelhante a sangue, sangue porejante lentamente das paredes das ruínas da casa de farinha, derramando-se em borbotões vagarosos sobre os blocos de argamassa, saindo de todos os pontos da parede, uma cachoeira viscosa e silenciosa, sangue brotando de cada rachadura, cada ponto escuro do cimento antigo (...). No céu de Amoreiras nada se via, a não ser as constelações de janeiro em seu passeia inexorável. Mais acima desse céu de Amoreiras, onde tudo existe e nada é inacreditável, o Poleiro das Almas, bibrando de tantas asas agitadas e tantos sonhos brandidos ao vento indiferente do Universo, quase despenca da agitação que o avassalou, enquanto a terra latejava lá embaixo e as alminhas faziam força para descer, descer, descer, descer, decser, porque queriam brigar. Por que queriam brigar? Não se sabe, nada se sabe, tudo se escolhe. Tudo se escolhe, como sabem as alminhas agora tiritando no frio infinito do cosmos, que as abalança como as arraias em pinadas pelos meninos de que têm saudades. Almas brasileirinhas, tão pequetitinhas que faziam pena, tão bobas que davam dó, mas decididas a voltar para lutar. Alminhas que tinham aprendido tão pouco e queriam aprender mais. (...) O sudeste bateu, juntou as nuvens, começou a chover em bagas grossas e titmadasm todos os que ainda estavam acordados levantaram-se para fechasr suas janelas e aparar a água que vinha das calhas. Ninguém olhou para cima e assim ninguém viu, no meio do temporal, o Espírito do Homem, erradio, mas cheio de esperança, vagando sobre as águas sem luz da grande baía".

A Ba(H)ía de Todos os Santos :)

"Viva o povo brasileiro", João Ubaldo Ribeiro.

Saturday, December 27, 2008

Nove chamadas não atendidas

"See ya later, innovator!"


Ou melhor: adeus.
E, dessa vez, é pra sempre.

***
'It's ever so funny, I don't think you're special
I don't think you're cool
You're just probably alreyt, but under these lights you look beautiful
But I'm struggling, I can't see through your fake tan
And you know it for a fact that everybody's eating out of your hands...'

-Fancy seeing you in here, you're all tarted up and you don't look the same. I haven't seen you since last year and surprisingly you have forgot my name. But you know it and you knew it all along... Oh you say you have forgotten, but you're fibbing, go on tell me I'm wrong. I fancy you with a passion, you're a Topshop princess, a rockstar too. You're a fad, you're a fashion and I'm having a job trying to talk to you... But it's alright, put it all on one-side, everybody's looking, you've got control of everyone's eyes... Including mine.

-Hell yeah... Well, see ya later, innovator!

Músicas: Arctic Monkeys.

Friday, December 26, 2008

Diane IV


Diane Arbus, "Girl in a watch cap".
Nova Iorque, 1965.

Thursday, December 25, 2008

E quem foi que me viu?

Quem foi que conseguiu tirar isso de mim?
Essa paixão de justiça, esse sentimento de solidariedade, a sensação de tristeza incansável?
Não sei... talvez tenha sido alguém, talvez tenha sido a vida.
Mas o caso é que eu não gostei dessa mudança.
Eu quero de volta.

Quem sou eu sem meus princípios?
Quem sou eu sem a minha angústia?



[Será que é preciso ser infeliz para se preocupar com os outros?]


***
E não. Ainda não achei um céu mais bonito do que o daqui.
O meu céu. O céu deles.
O céu que testemunhou o nascimento de todos os meus sonhos.
O nascimento das minha idéias.
E o mesmo céu que não viu quando esse sonhos começaram a se realizar.
O mesmo céu que ainda não viu a consolidação dessas idéias.
O mesmo céu - o céu de sempre.
Imutável diante de cada mudança minha...
Minha dialética constante -será?
E, assim, ele me parece diferente à cada vez que eu o vejo.
Sempre lindo. Sempre etéreo.
Mas sem Deus.

Tuesday, December 23, 2008

Então é Natal II

Nossa, que revolta... hahaha

Mas estou sem criatividade suficiente para escrever algo novo. Ainda mais porque acredito que o que escrevi no dia 25 de Dezembro de 2007 ainda é válido para esse 25 de Dezembro de 2008. Talvez com um pouco menos de revolta, mas continua válido =)

A hipocrisia das pessoas me assusta. Não que eu também não seja hipócrita; longe disso, acho que sou a mais alienada de todos, já que sei, mas continuo fazendo e não tento mudar a situação.

Estou falando do Natal, claro. Sobre o que mais é permitido falar no dia 25 de dezembro? Natal apenas. Suposto nascimento de Jesus Cristo, mas acho que até o valor simbólico disso já se perdeu. Agora é uma data comercial assim como o dia das mães e dos pais e dos namorados...
Não que eu seja religiosa e considere isso uma heresia. Admiro o Jesus-homem, um pensador fantástico e extremamente avançado para seu tempo, pregando a igualdade e a fraternidade. O primeiro socialista, por assim dizer! Mas o Jesus-deus... Bem, acho que a atribuição do divino a Jesus lhe tira parte considerável de sua grandeza. Quando falamos que ele é divino, é como se justificássemos seus atos; quando falamos que ele é homem, estamos demonstrando que ele era como nós e que, consequentemente, qualquer um de nós poderia ser como ele.
A questão, porém, não é de crer ou não em Deus ou em Jesus divino, a questão é de princípios. Princípios religiosos, se você preferir. As pessoas passam uma semana ou mais se preparando para o Natal, compram enfeites, decoram a casa, preparam uma ceia gigantesca, sem falar dos presentes. No dia 24 de dezembro, colocam para tocar um cd de músicas natalinas, todos se arrumam para a noite de gala, passam perfume, tiram fotos... Até a hora da prece. Sim, tem a prece. E sabe o que elas pedem? Um feliz natal para todos! Agradecem a Deus/Dinheiro pelo banquete que Ele lhes proporcionou, pela maravilhosa ocasião de estar a família reunida... Contam histórias sobre o nascimento de Jesus, sobre sua vida e seus atos. Falam de sua bondade para com todos!
Mas o pior de tudo é que elas pedem pelo mundo, pedem pelos outros, pedem a Deus para cuidar das outras pessoas! Falam da pobreza no mundo e continuam comprando as coisas mais caras e inúteis apenas porque é aniversário de Jesus Cristo! Mas como falar em Jesus em tais condições? Como falar dele e de suas pregações humanitárias assim? Eu nem sou religiosa e nunca li a bíblia inteira, mas até eu sei que isso vai contra os ensinamentos dele! Não foi Jesus que foi até um mercado e destruíu tudo por causa da fartura e de outros princípios "burgueses" em plena casa de seu pai? Para mim, o mesmo aconteceria se ele visse a mesma fartura e os mesmos princípios na comemoração de seu aniversário, uma data religiosa.
E, aliás, quantas pessoas estão passando fome naquele exato momento? Estão com frio debaixo de uma ponte, estão morrendo em campos de refugiados ou estão roubando para conseguir sobreviver? E no mesmo momento em que essa família está alí, reunida na fartura, na hipocrisia e nessa fé estúpida de que Deus vai resolver todos os problemas do mundo para tirar o peso da culpa de suas mentes...

Thursday, December 18, 2008

Lembranças dos esquecidos

"Os amados fazem-se lembrar pela lágrima.
Os esquecidos fazem-se lembrar pelo sangue".

Dito de Tizangara, Moçambique.


De Moçambique, do Sudão, do Congo, do Afeganistão, do Paquistão, da Colômbia, dos Balcãs, da Palestina, do Iraque, de Ruanda... e quantos mais outros?

Que coisa triste de se pensar...

***
Ontem
Carlos Drummond de Andrade
Até hoje perplexo
ante o que murchou
e não eram pétalas.
De como este banco
não reteve forma,
cor ou lembrança.
Nem esta árvore
balança o galho
que balançava.
Tudo foi breve
e definitivo.
Eis está gravado
não no ar, em mim,
que por minha vez
escrevo, dissipo.

Monday, December 15, 2008

E uma caveira atrás da porta

A mesma coisa. A mesma coisinha, igualzinha, bonitinha, normalzinha. Chata. Cheia de memórias para contar; em cada cantinho, em cada parede, em cada bruxinha, em cada máscara africana, em cada estrela pintada, em cada taco quebrado, em cada tecla do piano... em todos os lugares, um diário invisível de sua vida, de suas dores, de suas alegrias, de suas saudades.
Exatamente igual: o mesmo cheiro. Mas sem coisinhas fofinhas, peludas e ronronantes vindo passar por entre as suas pernas. Sem a irmã para lhe dar as boas-vindas com um recado de que é para desfazer logo as malas e deixar tudo arrumado, porque ela não quer bagunça no quarto - e também não quer ser perturbada tarde da noite por causa de luzes e sons. Sem Mariazinha para abraçar e contar todas as novidades. Ele está lá, sempre carinhoso e conversador, mas nunca fica em casa.
Então está sozinha. Sozinha com as memórias de um mundo que já acabou, um mundo que não lhe pertence mais. Sozinha com os fantasmas de todas as pessoas que já passaram por ali - as risadas do quarto, as danças e as confissões da sala, os beijos na janela, os choros na escada. Sozinha com as muitas Claras também que já viveram ali -quantas pessoas diferente já fora, quantos eus, quantos sonhos?
Parece que tudo acontecera há décadas... Não era ela que se sentava naquele banquinho e ficava tocando músicas ao piano durante tardes inteiras... Não era ela que se encostava na parede e ficava olhando para o céu por horas seguidas... Não era ela que ficava rodando pelo apartamento sem parar, tentando encontrar mais alguma coisinha para pintar ou decorar... E simplesmente não era ela que ficava enrolando no quarto, com o som alto, fingindo que estudava para a irmã não reclamar... Era outra pessoa. Era uma menina. Era um rascunho do que é hoje.
E como tudo correra tranquilamente, como se sua vida tivesse um rumo certo e definido... Será que todos tinham a sua sorte, de ver todos os seus maiores desejos realizados?
***
"Eu quero morar aqui quando estiver mais velha"
"Desistiu de Londres?"
"Ah... se eu não morar em Londres, então, quero morar aqui."
"Mas é muito grande... e poluída."
"Eu não me importo. É grande, cheia de carros e cheia de prédios. E cheia das pessoas mais diferentes que eu já vi! E não faz calor."
"Então você ai deixar a gente e vai vir morar sozinha aqui?"
"Ah... Isso eu não queria... Mas tem coisas que a gente faz, né?"
"É... e eu sempre soube que você era do mundo, filha."
"Do mundo?"
"É... e acho que isso é bom para você. Mas não para a gente."
"Ah... Mas vocês podem vir me visitar o tempo todo!! E, falando nisso... Eu vou para Salvador ano que vem, né?"
"Filha... Você tá muito novinha ainda... Como é que você vai morar sozinha com treze anos?"
"Mas papai!! Eu não vou morar sozinha... Vou morar com Paula!"
"Mesmo assim... Como é que você vai se virar lá sozinha?"
"Ué... Eu não sou do mundo?"
"É."
"Então consigo me virar."
"Ah, eu sei... O pior é que não tenho dúvidas nenhuma de que você consegue se virar sozinha... Talvez eu só esteja arranjando uma desculpa."
"Desculpa? Desculpa pra que?"
"Pra você não sair de perto da gente.... Porque, quando você sair, eu sei que não vai voltar mais."

Friday, December 12, 2008

Sem motivos ou entendimentos

Because the world is round it turns me on
Because the world is round...
Because the wind is high it blows my mind
Because the wind is high...
Love is old, love is new
Love is all, love is you
Because the sky is blue, it makes me cry
Because the sky is blue...

"Because", The Beatles.

Wednesday, December 10, 2008

Admirável mundo novo

"Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento".
Clarice Lispector

E é assim, fazendo minhas as palavras dela, que consigo dizer o que esse ano significou para mim. Na cidade em que eu queria morar, na universidade em que eu queria estudar, no curso que eu queria fazer, e, surpreendentemente, com as pessoas que eu sempre quis conhecer.

É incrível como as coisas acontecem - e incrível também como um ano pode mudar tanto alguém.

[Desculpem-me, mamãe e papai... Mas, aqui, estou em casa.]

Friday, December 05, 2008

Sobre coisas que as palavras não exprimem

Talvez alguém pudesse inventar, de fato, uma "escrita conceitual". Plano horizontal, vertical, diagonal, isso não me interessa; só queria que as palavras não fossem tão ambíguas. Queria que as pessoas dissessem aquilo que querem dizer - e que fosse possível compreender o que elas realmente querem dizer de imediato. Queria que não houvesse o duplo sentido, o outra lado da frase, ou mesmo a linguagem corporal -com sua "double bind". Ou, quem sabe, que apenas houvesse a linguagem corporal, já que ela não mente. E queria que as pessoas fossem tão transparentes ao ponto de não conseguirem mentir ou esconder o que estão sentindo.

Mas quem sou eu para exigir dos outros sinceridade? Quem sou eu para falar de sentimentos - ou da demonstração deles?

***

Não sei... É que, há dois dias, tive um sonho estranho, um sonho que eu não tinha há tempos. Ou talvez seja um pesadelo por despertar coisas que eu tento esconder de mim mesma. E eu fiz aquilo que não fazia há exatamente um ano e dez meses.

Ao invés de me sentir melhor como achei que me sentiria, porém, fiquei pior. Talvez porque, com cada gotinha, vem uma dor tão forte que é como se eu estivesse lá de novo, naquele mesmo dia, escondida atrás do sofá, abraçando uma almofada e ouvindo os passos apressados pela casa... desejando que tudo aquilo acabasse, que meus olhos simplesmente secassem e que eu pudesse dormir para acordar e ver que já foi, que passou... ou mancando pelo jardim, minha perna doendo como se os meus pontos é que tivessem sido abertos, hipnotizada pela única luz naquela escuridão -a vela acesa na capela... até encontrar o meu pai, supresa ao perceber que ele estava parecendo tão indefeso como eu própria estava me sentindo, e fazer aquele pedido que até hoje eu me arrependo de ter feito ("Se isso não der certo, pega a sua arma e atira nela. Se você não conseguir, eu mesma atiro.")... ou mesmo parada, no meio da sala, com os olhos já secos por não ter mais o que chorar, sentindo um peso tão grande que me impedia de andar, e sentindo também aquilo que me atormenta mais -aquele sentimento de que não há nada que você possa fazer, que sou apenas um peso inútil diante de tanto sofrimento no mundo; e de injustiça também, porque não consigo entender o porquê de coisas assim acontecerem... Até Mariazinha chegar perto e falar, com os olhos vermelhos: "Não fica assim, Clarinha... Nao chora.". Mas eu não estava mais chorando; eu estava inerte, na verdade, talvez já naquele estado de vazio total. Ou talvez eu tenha tomado, naquele momento, uma decisão... não sei de que, mas tomei. E acho que não serviu de nada, porque a vida continuou normalmente apesar de eu achar isso um absurdo.

Quase dois anos se passaram e tenho certeza de que muitas Aninhas estão morrendo por aí do mesmo jeito que a minha, e é incrível como a dor pode se renovar assim, depois de tanto tempo. E talvez agora eu saiba, depois de tudo isso, que o peso que me invade às vezes, essa angústia, não passa daquele mesmo sentimento, o de impotência. Que não adianta você não usar aquela marca que usa trabalho infantil porque várias outras também usam e você nem sabe; que não adianta você fazer uma doação para uma ong hoje se os governos não tomarem medidas estruturais, pois as pessoas continuarão morrendo de fome; que não adianta você não comer carne por causa da forma como os animais são tratados porque várias outras pessoas comem; que não adianta você se preocupar com os problemas do mundo, pois essa preocupação não levara à nada a não ser ao seu mal-estar.

Então talvez fosse melhor não me abalar dessa forma; talvez fosse melhor não me importar com o trabalho infantil, com as pessoas que estão morrendo de fome na África, com as mulheres mutiladas e mal-tratadas no Oriente Médio, com os animais sofrendo desnecessariamente em todo o mundo; talvez fosse melhor, afinal, não me importar com o sofrimento alheio. Quem sabe, dessa forma, eu me sinta melhor -e as pessoas não me achem tão ingênua.

[No fundo, no fundo, eu ainda espero que isso seja mentira.
Que adianta, sim, eu ser vegetariana, e que adianta, sim, eu me importar com os problemas do mundo -contanto que eu faço algo a respeito.
E, no fundo, no fundo, não me importo com isso de ingenuidade.
Ser realista, racional e fria nunca foram coisas que eu quis ser mesmo...]

Friday, November 14, 2008

Sabedoria popular

"Aqui, no Oriente Médio, nós compreendemos que existe uma grande diferença entre os desejos do povo e as decisões dos governantes. Nós culpamos os seus líderes, não a vocês."
Dito por um proprietário de um café em Bagdá.

E é uma compreensão que vem da prática.

Tuesday, October 28, 2008

Morgana fala...

"Em vida, me chamaram de muitas coisas: irmã, amante, sacerdotisa, maga, rainha. Na verdade, cheguei agora a ser maga, e poderá vir um tempo em que tais coisas devam ser conhecidas. Verdadeiramente, porém, creio que os cristãos dirão a última palavra. O mundo das fadas afasta-se cada vez mais daquele em que Cristo predomina. Nada tenho contra o Cristo, apenas contra os seus sacerdotes, que chamam a Grande Deusa de demônio e negam o seu poder no mundo. Alegam que, no máximo, esse seu poder foi o de Satã. Ou vestem-na com o manto azul da Senhora de Nazaré -que realmente foi poderosa, ao seu modo -, que, dizem, foi sempre virgem. Mas o que pode uma virgem saber das mágoas e labutas da humanidade?"
"As Brumas de Avalon", M. Z. Bradley
"The Magic Circle", pintura de John Waterhouse.

Sunday, October 26, 2008

Not heavy at all

na na na na naaaaaa!

Leve, leve, leve com preocupações, mas leve.


obs: só um lembrete para mim mesma.

Thursday, October 23, 2008

E-waste

'Milhares de toneladas de 'e-waste' (lixo eletrônico como computadores descartados, celulares e televisões) são jogados na África e na Ásia todos os anos. Nossa pesquisa (Greenpeace) mostra que parte desse 'desperdício' é levado para o Paquistão.
No distrito Lyari de Karachi, centenas de trabalhadores, inclusive crianças e adolescentes, ganham suas vidas desmontando os lixos eletrônicos e extraindo componentes valiosos para vender. Esse trabalho é uma viagem por dentro do custo pessoal do 'e-waste'."
O fotojornalista independente Robert Knoth acampanhou, em junho desse ano, um carregamento de "e-waste" da Europa até sua parada final, no Paquistão. Incrível como o que uns consideram lixo pode garantir a sobrevivência dos outros... Ou não, já que muitos paquistaneses e afegãos -refugiados, é claro -que trabalham com o "e-waste" acabam se contaminando com os resíduos tóxicos dos eletrônicos.
Aqui está o link das fotos com narração do próprio Robert; é rapidinho e vale a pena dar uma olhada...

Wednesday, October 22, 2008

Just numb

Hello, is there anybody in there?
There is no pain, you are receding
A distant ship smoke on the horizon
You are only coming through in waves
Your lips move but I can't hear what you're saying

When I was a child I had a fever
My hands felt just like two balloons
Now I've got that feeling once again
I can't explain, you would not understand
This is not how I am...

...I have become comfortably numb.

"Comfortably numb", Pink Floyd.

E Carrie... no zsa zsa zsu at all.

Tuesday, October 21, 2008

Mas...

Está tudo certo, mas...



...cadê o zsa zsa zsu, Carrie?

***

E a latinha corria, corria e corria, sem vento, sem lamento, sem impulso. A rua deserta e escura, apenas a luz bruxuleante do poste, e nem ao menos uma alma companheira para lhe indicar que, "hei, você não está sozinha, existe vida nesse lugar!". Nem uma alma.

E a latinha corria, corria e corria, e seus olhos a seguiam despreocupadamente, talvez pensando naquelas aulas que tivera há uns anos -o vento? a inércia? e o atrito? Talvez a mente estivesse mais longe do que isso -muito longe!, em que zona mesmo de São Paulo?

Mas a latinha parou. E o vento parou. E qualquer ruído cessou também. E veio. Veio aquilo que não vinha há muito tempo, aquele peso, aquele aperto, aquela dor, aquela angústia. Nem se lembrava mais como era ter aquilo, mas no momento em que sentiu, uma familiaridade cruel lhe invadiu a mente.

Sem mais nem menos, sem motivo exato, sem razão. Apenas sentiu, e como nunca sentira antes. "A dor dos outros", alguém lhe dissera um dia, "Você tem essa mania de carregar a dor do mundo nas suas costas... e isso lhe faz muito mal." E era exatamente essa a impressão que teve; era a dor dos outros, a dor que alguém deixara ali, naquela esquina, naquela latinha, naquela luz bruxuleante, que ela estava sentindo agora. Roubara o sentimento alheio -ou estava apenas dividindo, compartilhando, se compadecendo?

E era certo fazer aquilo? Ela não pedia, apenas sentia... mas nunca como naquela noite. Não foi espontâneo, não foi controlável, não foi passageiro. E lhe inundou como um avalanche, como um peso enorme no peito, um aperto na garganta, como se garras lhe arranhassem por todos os lados.

"Isso não é meu."

Todas as outras vezes, conseguira encontrar uma explicação. Certa vez fora uma música -do Pink Floyd, será? -com uma certa batida ritmada que lhe despertara aquilo... Outras vezes, fora aquele pesadelo, o única que tinha e que se repetia de tempos e tempos... Outra vez fora um filme, a fala de alguém, algum gesto... Mas nunca assim. Nunca com uma latinha, nunca com um passo, nunca em uma esquina deserta, de repente.

Acelerou o passo. Não queria ficar ali sozinha. Não se impediu, porém, de olhar para o céu - mas cadê ela? Cadê a lua, estava escondida aonde, atrás de que nuvem? Tinha que vê-la, será que estava estranha? Será que estava vermelha, com aquele círculo em volta? Ou estava branca e gélida, como as garras que tentavam púxá-la de volta para a esquina?

Não olhou mais para trás. Tinha medo do que poderia ver, ainda mais agora que o peso descera para as suas pernas, e ela arquejava para alcançar a porta do seu prédio. E sentiu - sentiu uma lágrima se formar em seu olho. Uma lágrima!

E a surpresa lhe trouxe de volta para a realidade. "Lágrima?"

Não. Eu não choro.

Sunday, October 19, 2008

Entre céus e pêras


"Agora considere nosso cone de luz do passado, ou seja, os percursos no espaço-tempo dos feixes de luz de galáxias distantes que nos alcançam no presente. Em um diagrama com o tempo traçado para cima e o espaço traçado para os lados, esse é um cone com seu vértice, ou ponta, em nós. À medida que voltamos no passado, descendo o cone a partir do vértice, vemos galáxias em épocas cada vez mais remotas. Como o universo vem se expandindo e tudo costumava estar bem mais próximo entre si, ao olharmos ainda mais longe no passado, estamos olhando regiões de densidade de matéria maior. Observamos um fraco fundo de radiação em microondas que se propaga até nós ao longo de nosso cone de luz do passado proveniente de uma época muito mais remota, quando o universo era muito mais denso e quente do que é agora.

(...)

Assim, podemos concluir que nosso cone de luz do passado precisa passar por certa quantidade de matéria quando alguém retrocede por ele. Essa quantidade de matéria é suficiente para curvar o espaço-tempo, arqueando os feixes de luz em nosso cone de luz do passado para trás, em direção uns aos outros.

À medidade que se retrocede no tempo, os cortes transversais de nosso cone de luz do passado atingem um tamanho máximo e começam a diminuir novamente. Nosso passado tem forma de pêra.

À proporção que se retrocede ainda mais por nosso cone de luz do passado, a densidade de energia positiva da matéria faz os feixes de luz se arquearem em direção uns aos outros mais fortemente. O corte transversal do cone de luz encolherá até o tamanho zero em um tempo finito. Isso significa que toda a matéria dentro do nosso cone de luz do passado está presa em uma região cujo limite encolhe pra zero (...), no chamado big-bang."

"O universo numa casca de noz", Stephen Hawkings.

***

"Calinha?"
"Oi, amor?"
"Por que é que você olha tanto para o céu?"
"Quando você crescer e ficar grandão que nem Calinha..."
"Que nem Calinha não, porque eu não vou ter cabelo grande, não vou ter peitos e nem vou usar batom."
"Hmm... tá, que seja. Quando você for grandão que nem papai então, e estudar muito que nem Calinha ;), você vai entender."
"Vou?"
"Vai. E se você não entender, você pode perguntar pra mim."
"Então eu posso perguntar agora?"
"Não, Paulinho, só quando você estiver grandão que nem papai!"
"Ah... então quando eu estiver grandão que nem Calinha, eu pergunto..."

"Estudar muito"...
Só pra não desmotivar meu irmão, sabe como é... :)

Thursday, October 16, 2008

Nostalgia II

Saudade de andar sentindo a brisa no rosto, na orla, com as amigas de sempre -DE SEMPRE, PRA SEMPRE! -, falando sobre coisas quaisquer, desinteressantes ou não.
Saudade de rir sem parar, saudade daquele sorriso quando pensava naquela coisa -ou naquela pessoa.
Saudade de sair sem destino, saudade de correr na praia às três da manhã...
Saudade de acordar de manhã e ver mensagens de voz estranhas - ou não.
Saudade de ir embora de casa na sexta e só voltar no domingo, com os pais preocupados.
Saudade das luzes roxas, do cheiro de cigarro, dos cabelos grandes, dos óculos escuros, dos mendingos e das prostitutas da Barra.
Saudade de quando aquela música começava a tocar.
Saudade de ir visitar a melhor amiga e ter que acordá-la aos berros para contar todas as novidades -e saudade da expressão que surgia no rosto dela à cada palavra minha, à cada noite contada...
Saudade de Led Zeppelin, de The Doors, de Pink Floyd, de Velhas Virgens, de Rita Lee.
Saudade das apostas nas festas, saudade da surpresa no rosto das pessoas, saudade de beber direto da garrafa.
Saudade de não ter nada o que fazer com aquela amiga, e ir pro posto mais badalado de Salvador... ;)
Saudade de sentar na cama quebrada.
Saudade de tirar cartas de tarô e ler runas para elas -as de sempre!
Saudade das previsões apocalípticas -quem ia mesmo engravidar? Quem ia mesmo voltar para o inferninho que chamaram de Jequi... é?
Saudade das pragas jogadas - "porque um dia você vai se apaixonar, menina, e aí vai pagar por tudo que já fez e já falou!"
Saudade das preocupações, saudades das provinhas, saudade de sonhar com o futuro.
Saudade de sentar naquele bar, vendo o mar enquanto uma banda de rock qualquer tocava músicas conhecidas.
Saudade de... saudade de tudo.
Saudade do ano passado.
Saudade de tudo que já fui, de tudo que já foi.

Sunday, October 12, 2008

Fantasmas coloniais


"As democracias não nascem plenamente desenvolvidas de noite para o dia, nem necessariamente há uma linha clara dividindo governo democrático e autocracia. Normalmente a democracia pode ser vista como um continuum. A sociedade civil e instituições democráticas como partidos políticos e ONGs tendem a se desenvolver lentamente ao longo do tempo, um passo fundamental de cada vez.

A verdadeira democracia é definida não apenas por eleições, mas pelo governo democrático que se segue a elas. Os elementos fundamentais do governo democrático são mais do que apenas eleições livres e justas. Incluem a proteção dos direitos políticos daqueles que fazem oposição política, o livre funcionamento da sociedade civil, imprensa livre e um judiciário independente. Com excessiva frequência no mundo em desenvolvimento - incluindo o mundo islâmico em desenvolvimento - , as eleições são vistas como a única coisa importante. O processo eleitoral é democrático, mas é aí que a democracia termina. O que se segue é equivalente a um regime autoritário de partido único. Isso é o oposto do verdadeiro governo democrático, que se baseia em poder constitucional partilhado e responsabilidade. E como o governo democrático se baseia em um continuum de experiência, a duração dessa experiência está diretamente ligada à sustentabilidade do próprio governo democrático. Em outras palavras, quanto mais tempo durao governo democrático, mais forte o sistema democrático.

(...)

Temos de pensar em uma nova democracia como um pequeno broto que precisa ser adubado, regado, cuidado e ter tempo para se transformar em uma árvore poderosa. Portanto, quando experiências democráticas são prematuramente interrompidas ou destruídas, os efeitos podem ser, se não permanentes, certamente muito duradouros. Suspensões internas ou externas da democracia (tanto eleições quanto governo) podem ter efeitos que se estendem por várias gerações.

(...)
A experiência colonial de muitos países muçulmanos contribuiu para as dificuldades que eles enfrentam para sustentar a democracia. Na ausência de apoio adequado e sem o tempo e a dedicação necessários para construir uma infra-estrutura democrática, eles fracassaram no fortalecimento de seus processos eleitorais e de governo. Muitos dos países abordados neste capítulo [Irã, Argélia, Líbia, Tunísia, Marrocos, Egito, Iraque, Afeganistão, Comores, Líbano, Paquistão, Bangladesh, Jordânia, Palestina] foram expostos a valores democráticos, ideais democráticos e o gradual desenvolvimento de instituições políticas e sociais quando estavam sob administração colonial ou pouco depois. Contudo, suas nascentes democráticas muitas vezes foram esmagadas pelos interesses estratégicos das potências ocidentais (frequentemente se valendo de elementos da própria sociedade) antes de se transformarem em sistemas democráticos viáveis."



"Reconciliação - Islamismo, Democracia e o Ocidente", Benazir Bhutto.
Foto: Benazir, duas vezes primeira-ministra do Paquistão, morta em atentado terrorista em 2007, quando retornava do exílio.

Friday, October 10, 2008

Diane III

"Identical twins", Diane Arbus.
Olhando as fotos dela, dá para entender o porquê do seu suicídio...

Wednesday, October 08, 2008

Let's see...

Okay, here we go.
I'm not the kind of person who creates a blog to be a confessionary. Actually, I'm not like that at all, and I guess it's just because I feel a little naked when people know my deep thoughts and feelings. And by the way, that is - or was, now - one of my secrets. Yet, I'm here right now writing what it feels to be a personal thing -or post, whatever.
It's just that... Well, I think all of my friends that have been reading my posts for the last two years in this blog know that I'm not into this thing of judging people who make mistakes. Linguistic mistakes, I mean. I totally agree with that portuguese professor who writes on Caros Amigos -Magno something... don't remeber right now and I'm not in the mood to get an edition to search for his name, so... lets just call him "whatsisname". So, Whatisname says that there's nothing wrong about making mistakes as long as you can achieve the greatest goal of talking; as long as you can communicate, as long as you can transmit your thoughts and ideas, there's nothing wrong about saying things like "pentiar" and "nós vai". And, you know, we're talking about a country that doesn't provide a proper education to all of its population. So how can we judge someone else's way of talking, for god's sake? And even if the person has had a good education and all, we shouldn't critize that aspect of the communication process...
I mean, I do know it's hard not to notice some mistakes, but it's only because we are used to the so called correct way of speaking. I mean, come on, when we are kids or when we don't go to school, we learn a very reasonable and satisfying way of talking that suites everybody lives and needs. But then, when we go to school, we learn that our way of talking is wrong, and then we have to memorize all of those grammar rules and stuff, but... Well, it's just that I can't stop thinking: who makes the language? Who creates the rules and the way of talking? It's the people, right? The people who really uses the language is the one who owns the language itself. Not the other way around! Cause we seem to be dominated by the rules like that! And yeah, you can say that those rules only exist to make it easier for us to write and all that, and that we have to have a model do follow and stuff, but...
Oh, what the heck... I want to be a jornalist and I'm here, complaining about the language that I'll use to pass my ideas. Cause I have to admit, it's so weird when I see a portuguese mistake on a journal, newspaper, whatever. And I have this crazy behavior of looking for it, so why am I saying all of those things?
Well, that's a more complicated question. Or not. Earlier today, I was talking to a friend of mine about our priorities in life -and about how we are doing less than we can. We are not taking ourselves seriously, you know... We don't study, we don't read, we just wanna have fun, and I guess we're just wasting all of our potencial. And I know we do have potencial, cause we're here, right now, at a very good center of study. At least, I'm talking for myself...
And then, I noticed something weird; well, I critize when people judge other people mistakes, like I said before, but now, I'm the one making a lot -and when I say a lot, is a lot -of mistakes. And I feel terrible for it! I feel lousy, really! So, other people can make mistakes, but I can't?
That is weird.
A strange way of thinking, actually. So what should I do?
I was always the person who speaks a correct portuguese... My own mother says that I'm like her grammar or something! But now I'm doing all of these mistakes, and I have no idea what happened! I just forgot all of the rules? Those same rules that I said that are kind of useless and restraining?
And I feel bad about it. Cause, deep inside, I want to speak correctly. I mean, who doesn't?
And that's important. Maybe those rules are not that useless, anyway...
Shit. I'm having this stupid "crise existencial" and yet, I know my life's great right now. It just feels right, you know... It's like, all the places I have been, all the things that I've been through and all the people that I've met, they were all parts of the journey that would get me to this very specific moment. To this place. With those people. In this city.
And why am I writing in english? Well, let's put in that way: guess I'm having some problems with my own language.
And I hope this is something that I'll use as a lesson.
Maybe I'll start studying now...
Or not. ;)
And I'm sure there's a lot of english mistakes as well...
But you know what?
I. don't. care.

Wednesday, October 01, 2008

"Barbárie não se anistia"

"Para Paulo Cunha, professor de História Política da Unesp, as críticas contra a postura do ministro Tarso Genro não têm base:
'Não é verdadeiro o argumento de que uma revisão da Lei da Anistia trará instabilidade institucional ou golpe. Ao contrário, a impunidade foi o maior legado da ditadura militar e representa a maior ameaça à consolidação da democracia.'
A herança transformou o Brasil num país dividido e desigual: de um lado um Estado policial para os pobres; de outro, um Estado democrático de direito para os ricos, que usam um sistema jurídico falho e elitista para manter seus privilégios.
Falando a jornalistas no meio de agosto, o juiz Fausto Martin de Sanctis, responsável pelo processo contra o banqueiro Daniel Dantas, declarou:
'O Brasil é o segundo país mais violento de mundo, depois de Serra Leoa. Por quê? Só tem um motivo: impunidade.'"
Bruno Versoleto, "Países que puniram ficaram menos violentos"
Caros Amigos, setembro de 2008.

Sunday, September 28, 2008

Just another brick

What shall we use to fill the empty spaces where waves of hunger roar?
Shall we set out across the sea of faces in search of more and more applause?
Shall we buy a new guitar?
Shall we drive a more powerful car?
Shall we work straight through the night?
Shall we get into fights?
Leave the lights on?
Drop bombs?
Do tours of the east?
Contract diseases?
Bury bones?
Break up homes?
Send flowers by phone?
Take to drink?
Go to shrinks?
Give up meat?
Rarely sleep?
Keep people as pets?
Train dogs?
Race rats?
Fill the attic with cash?
Bury treasure?
Store up leisure?

But never relax at all with our backs to the wall.

"What shall we do now?", Pink Floyd.

Sunday, September 21, 2008

Algumas palavras

Adoro as coisas que dão errado para que algo dê certo.
Elas fazem tudo ficar melhor no final...

E é só isso que eu tenho a dizer hoje; sem tragédias, sem morte, sem dor, sem árabes.
Só isso.
Just some words I might have ate.

Tuesday, September 16, 2008

Carta a um amigo

21 de Janeiro de 2008
Jequié, Bahia

D. querido,
Encontrei esse poema nesses dias em uma livro que estava lendo -"Terror e Esperança na Palestina", de José Arbex Jr, aquele jornalista que eu adoro da Caros Amigos. Acho que você deveria ler esse livro, mesmo que eu tenha certeza de que não vai concordar com muitas coisas que ele escreve...
De qualquer jeito, só queria a sua opinião... Você sabe que adoro discutir com você, que deve ser a única pessoa que consegue fazer com que eu contorne a minha teimosia e repense as minhas idéias.
Dê uma olhadinha, tá? E sem pré-conceitos!


Cartão de Identidade
Mahmud Darwish

Escreve!
Sou árabe.
(...) As minhas raízes foram criadas antes do inicio dos tempos,
antes do nascimento das eras,
antes dos pinheiros e das oliveiras.
Antes que tivesse nascido a erva.
(...) Escreve!
Sou árabe.
Roubaste os pomares dos meus antepassados
e a terra que eu cultivava com meus filhos;
não me deixaste nada, apenas estas rochas.
O governo vai tira-me as rochas, como me disseram?
Escreve, então no alto da primeira página:
a ninguém odeio, a ninguém roubo.
Mas, se tiver fome,
Devorarei a carne do usurpador.
Tome cuidado!
Cuidado com minha fome,
cuidado com a minha ira!
Afinal, o fundamentalismo muçulmano não é algo que surgiu espontaneamente; a meu ver, ele é a resposta que os árabes encontraram para superar todos os fracassos políticos, sociais e econômicos que eles vêm sofrendo já há alguns séculos. Esses conflitos, aliás, tiveram como uma das várias razões a invasão ocidental no Oriente Médio, um processo simultâneo ao "fracasso" árabe que perdura até hoje.
Há questões internas também, é claro, como a grande quantidade de etnias de culturas e religiões diferentes -ou não -presentes na região. Mesmo esse ponto, porém, apresentou um agravamento por causa dos ocidentais, já que, durante o processo imperialista, minorias étnicas foram fortalecidas pelos invasores para favorecer a invasão e facilitar o controle das regiões -prática também presente na África. Após as independências, essas minorias passaram a exercer os governos em áreas extremamente heterogêneas.
Como eu estava dizendo antes, porém, o fundamentalismo é uma reação principalmente à modernidade -não representa, entretanto, uma oposição direta a esta, já que se utiliza da própria modernidade para crescer e agir em todo o mundo. Após muitas invasões, tentativas de independência, de democracia e de crescimento econômico e até de uma revoluçâo islâmica (Irã, 1979, liderada pelo aiatolá Khomeini), os muçulmanos finalmente partiram para o radicalismo religioso (já que o secularismo não dera certo). Estavam humilhados, isolados do resto do mundo, explorados e rebaixados em sua própria crença. E logo o vasto império muçulmano, que florescera e representara a própria modernidade na sua Idade de Ouro...
E, agora, lá estão os ocidentais novamente invadindo o Oriente Médio, matando-o mais, humilhando-o mais, explorando-o mais uma vez. Não é à tôa que o 11 de setembro aconteceu e que tantos atentados ainda acontecem -não justificando, é claro; explicando. Afinal -e acho que você concorda comigo -, não é por pouca coisa que um homem ou uma mulher prende uma bomba ao peito e a aciona apenas com o intuito de matar outras pessoas. Não pode ser pouco ódio, desespero e desesperança que essa pessoa sente para chegar ao ponto de dar sua própria vida assim -e ódio, desespero e desesperança são reações.
Por isso, o "Tome cuidado!" é certo; para toda ação, há uma reação, ainda mais quando essa ação já dura quase um milênio...
Não seja muito duro comigo - já posso quase ouvir você falando que meu problema é sempre analisar o contexto em primeiro lugar e colocar os árabes como vítimas... Você sabe que não é bem assim. Eu não sou mais uma garotinha para ser maniqueísta.
Saudades sempre,
Clara.

Sunday, September 14, 2008

L'adieu au piano

solrérémifámirémidó...
"Clarinha?"
"..."
"Eu sei que você não gosta de ser interrompida quando 'tá tocando."
"Hmm..."
"E eu sei que você fica de mal humor o resto do dia quando eu interrompo uma música."
"...?"
"Mas é que eu só queria te perguntar uma coisa..."
"O que é, Mariazinha?"
"Quando você acabar a faculdade de jornalismo, você pode fazer outras, não é?"
"Posso sim."
"Quantas você quiser... não é? Você pode fazer até mil faculdade depois! Não é?"
"É, se eu conseguisse, eu faria mil faculdades depois..."
"Então... Eu estava pensando... Por que você não entra em uma faculdade de música quando acabar a de jornalismo?"
"De música?"
"É! Tem faculdade pra isso, não tem? Curso pra tocar piano..."
"Tem sim... Mas como é que eu vou fazer com essa mão assim?"
"Você faz algum tratamento lá na faculdade mesmo! E aí você ia poder tocar quantas horas quisesse todos os dias... E ainda ia ajudar no curso de jornalismo, porque você também usa muito sua mão nele, né?"
"É sim... mas, Maria, quem faz um curso de música tem que se dedicar muito... E não dá pra ser jornalista e pianista ao mesmo tempo..."
"Quem disse isso?"
"...Ah, sei lá..."
"E você deveria levar o piano pra São Paulo... Ele fica aqui, empoeirando, sem ter ninguém pra tocar!"
"Rá! Eu já te mostrei o tamanho da minha quitinete?"
"Não."
"Então..."
"Tá certo, tá certo..."
"..."
"Clarinha?"
"Oi, Mariazinha."
"Você pode tocar agora aquela música que eu gosto, a de Natal?"
"'Noite Feliz'?"
"Essa mesma."
"Toco sim..."

Porque ela deve ser a única pessoa para quem eu consigo tocar sem errar...
E mesmo quando eu erro, ela acha que eu toco bem :]
E só daqui a três meses, meu pianinho >.<

Thursday, September 11, 2008

Às vidas que se foram

Hoje é 11 de Setembro...
E como é incrível como os acontecimentos de um único dia podem mudar a vida de tantas pessoas, e em tantos lugares diferentes do mundo!
[ou seria "tirar a vida de tantas pessoas"? ...]
E as consequências... ainda mais naquele lugarzinho do mundo que nunca teve uma década sequer de paz desde quando seu profeta nasceu... ou mesmo desde antes. Desde sempre.
Como é que coisas assim podem acontecer?
Como é que um Deus pode existir e deixar essa realidade intocada?
Será que é justo tanta injustiça nesse mundo?
[Mas existe justiça?]
E como é que alguém pode se alegrar com esses acontecimentos? Como é que alguém se alegra com um atentado terrorista? Com uma guerra? Com mortes de civis ou mesmo de militares?
Como uma pessoa ordena uma guerra sem pensar em morte?
[ou estou sendo ingênua, e elas pensam, sim, em morte, mas acham que há interesses mais importantes envolvidos?]
...
Não sei. A única conclusão que eu tiro disso tudo é a de que a vida humana está cada vez mais perdendo o seu valor.
E me desculpem se estou mais uma vez falando de coisas sérias aqui... Mas é que não consigo não pensar nisso hoje.

Wednesday, September 10, 2008

Just one of my lies

When I was young, I thought the world circled around me, but in time I realized I was wrong. My immortal thoughts turned into just dreams of a dead future... It was a tragic case of my reality.
Do you think you're indestructable and no one can touch you? Well, I think you're disposeable and it's time you knew the truth, cause it's just one of my lies. I only wanted do get real high cause it's just one of my lies.
Why does my life has to be so small? Yet death is forever... and does forever have a life to call its own? Don't give me an answer cause you only know as much as I know... Unless you're been there once. Well, I hardly think so.
I used to pray at night before I lay myself down. My mother said it was right, her mother said it too... Why?

"One of my lies", Green Day.

Tuesday, September 09, 2008

Triste realidade

Dos 44 Estados predominantemente muçulmanos, apenas Indonésia, Mali e Senegal são considerados livres. Dezoito países muçulmanos são considerados parcialmente livres: Afeganistão, Albânia, Bahrein, Bangladesh, Comores, Djibuti, Gâmbia, Jordânia, Kuwait, Quirguistão, Líbano, Malásia, Mauritânia, Marrocos, Nigéria, Serra Leoa, Turquia e Iêmen.
Vinte e cinco nações predominantemente muçulmanas foram classificadas como não-livres: Arábia Saudita, Azerbaijão, Brunei, Egito, Emirados Árbes Unidos, Palestina, Guiné, Irã, Iraque, Jordânia, Cazaquistão, Líbia, Maldivas, Omã, Paquistão, Quatar, Somália, Sudão, Síria, Tajiquistão, Tunísia, Turcomenistão, Uzbequistão e Saara Ocidental.
A pontuação média em direitos políticos (em uma escala de 1 a 7, com 1 sendo o mais alto grau de direitos) no mundo islâmico é de 5,24, comparada a 2,82 do mundo não islâmico. A pontuação média em liberdades civis em países islâmicos é de 4,78, contra 2,71 em países não-islâmicos. São diferenças significativas.
Acredito que essas diferenças não são fruto de teologia, mas produto de manipulação ocidental e politização interna muçulmana do islamismo.

Dados da ONG Freedom House, criada no início da Segunda Guerra Mundial por Eleanor Roosevelt.

Monday, September 08, 2008

Sonatas e árias e sinfonias


And I miss it so much...

***
Mas, mudando de assunto...
"That's just a phase, it's got to pass
I was a train moving too fast..."

ou não!
"Automatic stop", The Strokes.

Thursday, September 04, 2008

Pit Bull Palin

Duas afirmações de Sarah Palin, candidata a vice presidente dos Estados Unidos na chapa de McCain:
  • a única diferença entre ela e um pit bull é o baton.
  • “a invasão do Iraque foi uma missão divina”.

Pronunciamentos feitos, by the way, durante a Convenção Nacional Republicana, sendo que Sarah foi aplaudida de pé por quase três minutos.

Mas sabe o que é o pior de tudo? É que McCain tem fortes chances de vencer Obama.

E sim, eu sou uma "Obama girl".

Vacas à parte

CAPITALISMO IDEAL: Você tem duas vacas. Vende uma e compra um touro. Eles se multiplicam, e a economia cresce. Você vende o rebanho e aposenta-se, rico!
CAPITALISMO AMERICANO: Você tem duas vacas. Vende uma e força a outra a produzir o leite de quatro vacas. Fica surpreso quando ela morre.
CAPITALISMO JAPONÊS: Você tem duas vacas. Redesenha-as para que tenham um décimo do tamanho de uma vaca normal e produzam 20 vezes mais leite. Depois cria desenhinhos de vacas chamados Vaquimon e os vende para o mundo inteiro.
CAPITALISMO BRITÂNICO: Você tem duas vacas. As duas são loucas.
CAPITALISMO HOLANDÊS: Você tem duas vacas. Elas vivem juntas, não gostam de touros e tudo bem.
CAPITALISMO ALEMÃO: Você tem duas vacas. Elas produzem leite regularmente, segundo padrões de quantidade e horário previamente estabelecido, de forma precisa e lucrativa. Mas o que você queria mesmo era criar porcos.
CAPITALISMO RUSSO: Você tem duas vacas. Conta-as e vê que tem cinco. Conta de novo e vê que tem 42. Conta de novo e vê que tem 12 vacas. Você pára de contar e abre outra garrafa de vodca.
CAPITALISMO SUÍÇO: Você tem 500 vacas, mas nenhuma é sua. Você cobra para guardar a vaca dos outros.
CAPITALISMO ESPANHOL: Você tem muito orgulho de ter duas vacas.
CAPITALISMO PORTUGUÊS: Você tem duas vacas. E reclama porque seu rebanho não cresce...
CAPITALISMO HINDU: Você tem duas vacas. Ai de quem tocar nelas.
CAPITALISMO ARGENTINO: Você tem duas vacas. Você se esforça para ensinar as vacas mugirem em inglês... As vacas morrem. Você entrega a carne delas para o churrasco de fim de ano ao FMI.
CAPITALISMO BRASILEIRO: Você tem duas vacas. Uma delas é roubada. O governo cria a CCPV- Contribuição Compulsória pela Posse de Vaca. Um fiscal vem e lhe autua, porque embora você tenha recolhido corretamente a CCPV, o valor era pelo número de vacas presumidas e não pelo de vacas reais. A Receita Federal, por meio de dados também presumidos do seu consumo de leite, queijo, sapatos de couro, botões, presume que você tenha 200 vacas e para se livrar da encrenca, você dá a vaca restante para o fiscal deixar por isso mesmo.
Ah, eu sei que isso é meio antiguinho, mas não deixa de ser engraçado :DD

Tuesday, September 02, 2008

Vou te contar...

Cansei de Bossa, de Vinícius, de João, de Nara.

Eu quero agora apenas um bom e velho rock n' roll.
[e, de preferência, com uma letra bem política!]

Sunday, August 31, 2008

Eterno

E como ficou chato ser moderno.
Agora serei eterno.
Eterno! Eterno!
O Padre Eterno,
a vida eterna,
o fogo eterno.
(Le silence éternel de ces espaces infinis m'effraie.)
— O que é eterno, Yayá Lindinha?
— Ingrato! é o amor que te tenho.

Eternalidade eternite eternaltivamente
eternuávamos
eternissíssimo
A cada instante se criam novas categorias do eterno.

Eterna é a flor que se fana
se soube florir
é o menino recém-nascido
antes que lhe dêem nome
e lhe comuniquem o sentimento do efêmero
é o gesto de enlaçar e beijar
na visita do amor às almas
eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo
mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força o resgata
é minha mãe em mim que a estou pensando
de tanto que a perdi de não pensá-la
é o que se pensa em nós se estamos loucos
é tudo que passou, porque passou
é tudo que não passa, pois não houve
eternas as palavras, eternos os pensamentos; e passageiras as obras.
Eterno, mas até quando? é esse marulho em nós de um mar profundo.
Naufragamos sem praia; e na solidão dos botos afundamos.
É tentação a vertigem; e também a pirueta dos ébrios.
Eternos! Eternos, miseravelmente.
O relógio no pulso é nosso confidente.

Mas eu não quero ser senão eterno.
Que os séculos apodreçam e não reste mais do que uma essência
ou nem isso.
E que eu desapareça mas fique este chão varrido onde pousou uma sombra
e que não fique o chão nem fique a sombra
mas que a precisão urgente de ser eterno bóie como uma esponja no caos
e entre oceanos de nada
gere um ritmo.


Friday, August 29, 2008

Chega de saudade...

Ah, então vamos lá...
A arte de não se preocupar. Existe coisa melhor? E eu já sei que, como sempre fizeram na minha vida, pessoas alheias com vidas alheias já estão me julgando por aí, apenas porque comecei com essa simples frase...
A. arte. de. não. se .preocupar.
E depende de quem você é. Depende da vida que você teve. As mil interpretações, as mil faces secretas na face secreta de cada palavra, citando o poeta.
E se você me conhece, vai pensar logo que estou falando do comodismo das pessoas; vai pensar que essa é apenas mais uma postagem de cunho político e crítico da futura jornalista revoltadíssima aqui. Apenas mais uma daquelas coisas sérias e chatas que você não quer ler durante seu tempo livre...
Se você não me conhece, vai esperar pra ver. E a sua vida vai pesar mais que nunca nessa primeira impressão de frase... "A arte de não se preocupar"...
E acho que só tem uma pessoa que me entenderia de verdade, sem precisar de mais meias palavras, de mais explicações, de mais críticas... Só tem uma pessoa que saberia logo na primeira lida, na primeira letra, em um simples ponto, em uma rápido olhar, o que eu quero dizer. Ou o que eu não digo mas quero dizer.
Pessoa que não se engana comigo, que vê por trás de cada brincadeira minha e sabe coisas que nem eu mesma sei sobre mim mesma!
[e eu sinto tanta falta dessa pessoa...]
Só que até eu já estou me julgando; estou me julgando tanto que não me deixei passar da primeira frase, daquela simples frase.
[Meosenhoooor, que mundo é esse?
e que saudade é essa?]
Ai, sim, meu eu lírico jornalístico está extremamente confuso.

Sunday, August 24, 2008

It's gonna be alright

You say you want a revolution...Well, you know, we all want to change the world. You tell me that it's evolution... Well, you know, we all want to change the world. But when you talk about destruction, don't you know you can count me out? Don't you know it's gonna be alright?
You say you got a real solution... Well, you know, we'd all love to see the plan. You ask me for a contribution... Well, you know, we're doing what we can. But if you want money for people with minds that hate, all I can tell you is "Brother, you have to wait!". Don't you know it's gonna be alright?
You say you'll change the constitution... Well, you know, we all want to change your head. You tell me it's the institution... Well, you know, you better free your mind instead. But if you go carrying pictures of Chairman Mao, you ain't going to make it with anyone anyhow. Don't you know it's gonna be alright?
"Revolution", The Beatles.

Thursday, August 21, 2008

"Terra em chamas"

Breaking news I:"Obviamente, as tropas americanas estão no Iraque à pedido do governo iraquiano (...) e apenas para garantir a segurança dos próprios iraquianos"
Miss. Condy Rice de novo, quando, há apenas alguns minutos, uma jornalista perguntou sobre a retirada ou permanência das tropas americanas no Iraque em uma conferência que está acontecendo agora com ela e com o Foreign Minister iraquiano em Bagdá.

***
Breaking news II: governo israelense está fazendo chantagens com palestinos que precisam de cuidados médicos. Quando tentam passar pelas fronteiras de Gaza para ir em hospitais fora da região -já que em Gaza não há instituições de saúde decentes -, os palestinos são abordados por soldados israelenses. Estes, sabendo do objetivo dos palestinos, logo começam a indagar sobre informações políticas relacionadas ao Hamas. Quando os moradores da faixa de Gaza se recusam, os soldados apelam:
"Por que você quer atravessar a fronteira?"
"Para ir a um hospital."
"E você prefere ir a um hospital israelense do que procurar a ajuda de algum integrante do Hamas?"
Quando o palestino explica que, em Gaza, as condições médicas não são boas, o soldado continua:
"Os hospitais israelenses não têm condições de atender palestino. A menos que você nos ajude."

fonte: telejornal da CNN

***
Jornais americanos continuam chorando pela saída de Musharraf, claramente clamando que ela representa uma perda terrível para a influência americana na região -ainda mais quando essa influência tem relação com as ogivas nucleares paquistanesas.
Não vi, porém, nenhum que citasse o governo de Musharraf propriamente dito. E nem o que esse governou representou para os paquistaneses -embora os jornais insitam que a saída de Musharraf é uma "perda para a democracia no Paquistão".
Sim, claro... Musharraf era, de fato, um democrata fantástico. ¬¬²

***

Hmm. Preciso realmente fazer algum comentário?

Monday, August 18, 2008

But lets hope anyway...

'"This time I hope he means it.'
CONDOLEEZZA RICE, secretary of state, on a promise by President Dmitri A. Medvedev of Russia to start withdrawing troops from Georgia."
hahahaha, que ironia...
"Quotation of the day" do "The New York Times" de hoje.

Friday, August 15, 2008

Pelo direito de todos

Estudantes vegetarianos da Universidade de São Paulo pedem cardápio alternativo

Segundo o COSEAS, a Coordenadoria de Assistência Social da Universidade de São Paulo (campus da capital), “a Divisão de Alimentação recebe inúmeros pedidos dos usuários vegetarianos”. Estes usuários dos restaurantes da universidade, que já representam uma parcela considerável do total de estudantes que freqüentam o “Bandejão”, não apenas querem saber sobre a composição dos cardápios, mas também sobre uma questão que tem recebido cada vez mais destaque no cenário universitário: a adoção de opções vegetarianas em todos os restaurantes do campus.

Tendo um acompanhamento profissional competente –que possibilita a inclusão de opções para diabéticos e ainda a divulgação do valor calórico de cada alimento -, o “Bandejão” da USP é capaz de atender, de fato, as carências nutricionais de uma pessoa que se alimenta de carne. Para os vegetarianos, porém, a ausência da principal fonte de proteínas, vitaminas e minerais gera uma deficiência alimentícia grande, já que eles passam a se alimentar de apenas arroz, feijão e dois preparadas de verduras e legumes.
Essa deficiência geralmente decorre de baixas quantidades de Ferro e de algumas vitaminas do Complexo B –como a B12 -, o que pode levar àqueles que adotam a dieta vegetariana a desenvolver uma anemia ou ainda inúmeros outros problemas de saúde. E, mesmo que procurem em complementos alimentares –pílulas –os nutrientes que lhes faltam, a absorção dos mesmos é muito mais eficiente quanto presentes em algum alimento propriamente dito. Assim, a presença de opções sem carne acaba se tornando algo extremamente importante para a saúde dos vegetarianos.
Preocupados justamente com essas questões e respondendo aos constantes pedidos, opções com proteína vegetal texturizada, arroz integral e uma maior variação de verduras e legumes foram adotadas no Restaurante da Física, um dos cinco restaurantes localizados na Cidade Universitária. “O problema”, como diz Juliana Barbosa, estudante de Medicina da Universidade de São Paulo, “é que o Bandejão da Física fica longe da maioria dos cursos e é muito pequeno também”. Ou seja, apesar de ser adequada aos pedidos e necessidades dos vegetarianos, essa medida ainda não foi suficiente –ainda mais para estudantes como Juliana, que, para usufruir o serviço de alimentação da universidade de uma forma adequada a sua dieta, precisa se locomover do campus da Faculdade de Medicina até a Cidade Universitária, já que o restaurante local não apresenta tais opções alternativas.
“Sugiro que todos os vegetarianos da USP e aqueles que se compadecerem pela nossa causa se unam para reivindicar a opção vegetariana em todos os bandejões!”, continua Juliana. Afinal, mesmo sendo uma escolha extremamente pessoal, a adoção de uma dieta sem carne e a prática saudável dessa mesma adoção representam algo muito maior do que a preocupação de um grupo específico de estudantes da Universidade de São Paulo; representam o direito que as pessoas têm de exercer suas diferenças e de seguir seus ideais com liberdade. Essa é, portanto, uma luta de todos.

Thursday, August 14, 2008

Não é coisa do passado...

Documents seen by Greenpeace show that French company Areva is failing to implement vital safety procedures in the troubled construction of its prototype European Pressurized Water Reactor (EPR) in Olkiluoto, Finland. As well as being 2-3 years behind schedule, 70 per cent over budget, and experiencing 1,500 construction defects along with a damaging fire, the reactor's safety cannot be guaranteed."
...mas pode continuar sendo se países como o Brasil perceberem que há formas energéticas alternativas mais rentáveis e seguras do que a nuclear.

Monday, August 11, 2008

E não é nostalgia

"Ah, mas é porque que você só escreve coisas sérias... É tipo um soco no olho, sabe, e as pessoas não gostam disso. Elas gostam daquela doce ilusão de que a vida é linda e de que o mundo inteiro vive feliz como elas... Você tem que ser mais compreensiva; o que parece muito importante para você, pode não ser importante para os outros. Ainda mais quando o que você acha importante faz com que a gente se sinta tão culpado e triste."

Mas é engraçado como as coisas mudam... Décadas atrás, na época das ditaduras militares, da guerra do Vietnã e de uma constante tensão mundial, era legal e "descolado" ser politizado. Era legal você se importar com o mundo e querer mudá-lo. Hoje, entretanto, isso é coisa de "idealista de esquerda", de gente sonhadora e, diga-se de passagem, séria demais.

Será que é preciso haver uma situação de opressão escancarada para as pessoas se importarem? É preciso que o mundo se torne um lugar (mais) claramente injusto para que as pessoas deixem de lado o "sério" e admitam o "necessário"?

Friday, August 08, 2008

Star dust


E é tanta matéria naquele pontinho pequenininho que seria impossível calculá-la... Um jogo das quatro principais forças, lutando entre si em um balanceamento não tão eterno assim; uma transformação constante de elementos, fusões, fissões, gerando todos os elementos químicos possíveis, e saídos de um simples H; temperaturas altíssimas, pressão -nem se fala -, e mais e mais matéria condensada -matéria não se cria, lembra?, apenas se transforma, e o universo inteiro estava ali...

Até que a gravidade vence. Ou não. O caso é que, como na formação de um buraco negro (em que a matéria de uma estrela morta se condensa tanto que a "gravidade" cria uma variação "implosiva" no elástico tecido tempo-espaço), só que de forma inversa, o pontinho se expande. Pura entropia em uma big explosion -ou será bang?

Mas não. Porque entropia é constante. E o pontinho, como também em um buraco negro, sofreu uma condensação anterior para atingir o tamanho de... ér... um pontinho. O que significa que... o processo é constante? Se hoje já é cientificamente comprovado que o universo está se expandindo, significa que ele sofreu um impacto inicial para seguir em inércia pelo vácuo, mas o jogo de forças -ou deformações na dimensão tempo-espaço, como quis Einstein -faz com que, ocasionalmente, os corpos sejam atraídos uns para os outros, a ponto de deter essa expansão. E inicar uma atração mútua: planetas com satélites, planetas com planetas, planetas com estrelas, estrelas com estrelas, sistemas com sistemas, constelações com constelações, universo... com universo? ;D

E todos alegremente -ou não! -vão se unindo, vão se chocando, vão se destruindo, fundindo, gravidade com gravidade, vetorzinho com vetorzinho, fusão, fissão, carbono, hélio, hidrogênio... e lá está ele de novo, aquele pontinho denso e incrivelmente pesado!

...

Mas a luta recomeça. Força forte do núcleo, força fraca do núcleo, gravidade, mais fissão, mais fusão, mais vetores, mais pressão... E a gravidade ganha, ela sempre ganha. E aí...
Big. Bang.
Imagem em infravermelho da nossa Milky Way.

Wednesday, July 23, 2008

E o trabalho infantil?

"On August 31, 2008 one million people will run the Nike+ 10K Human Race and raise funds for good causes. The UN Refugee Agency is proud to be one of the causes to benefit, through our ninemillion.org campaign.
Wherever you are - you can sign up to be part of the ninemillion team. Refugee children need your support and it doesn't take much - just your running shoes! You could even build a team!
Run for good. Run for refugee children!"

Nike?
A hipocrisia é, de fato, um dos principais ingredientes do capitalismo.

Monday, July 21, 2008

De uma infiel

Onde nasci, a morte é uma visita constante. Um vírus, uma bactéria, um parasita; a seca e a fome; soldados e torturadores matam qualquer um a qualquer hora. A morte chega nas gotas de chuva que se transforma em inundação. Apodera-se da imaginação dos que estão no poder e mandam os subordinados perseguirem, torturarem e matarem qualquer um que lhes pareça inimigo. A morte seduz muita gente a dar cabo à própria vida para fugir de uma realidade insuportável. Devido à idéia da honra perdida, muiras mulheres vêem a morte chegar pelas mãos do pai, do irmão ou do marido. Ela arrebata as jovens, no parto, e deixa o recém-nascido órfão nas mãos de estranhos.
Para quem vive na anarquia e na guerra civil, como na minha Somália natal, a morte espreita em toda parte.
(...)
Na infância, primeiro topei com a força bruta do islã na Arábia Saudita. Coisa muito diferente da religião diluída da minha avó, tão mesclada com práticas mágicas e crendices pré-islâmicas. A Arábia Saudita é a fonte e a quintessência do islamismo. O lugar em que se pratica a religião muçulmana na sua forma mais pura e a origem de grande parte da visão fundamentalista que, desde o meu nascimento, tem se propagado muito além de suas fronteiras. Naquele país, cada alento, cada passo que dávamos estava impregnado de conceitos de pureza ou pecado, e de medo. O pensamento volitivo acreca da tolerância pacífica do islã não pode afastar a realidade: decepam-se mãos, as mulheres continuam sendo apedrejadas e escravizadas, tal como decidiu o profeta Maomé há séculos.
O tipo de pensamento que presenciei na Arábia Saudita e na Fraternidade Muçulmana, no Quênia e na Somália, é incompatível com os direitos humanos e os valores liberais. Preserva uma mentalidade feudal arrimada em conceitos tribais de honra e vergonha. Apóia-se no auto-engano, na hipcrisia e em padrões dúplices. Depende dos avanços tecnológicos ocidentais ao mesmo tempo que finge ignorar sua origem no pensamento ocidental. Essa mentalidade torna a transição para a modernidade muito dolorosa para todos os praticantes do islamismo.
(...)
Acusam-me de haver interiorizado o sentimento de inferioridade racial a ponto de atacar a minha própria cultura, movida pelo ódio a mim mesma, pois quero ser branca. É um argumento enfadonho. Acaso a liberdade existe unicamente para os brancos? Acaso é amor-próprio aderir às tradições dos meus ancentrais e mutilar as minhas filhas? Aceitar ser humilhada e impotente? Observar passivamente os meus conterrâneos espancarem as mulheres e se massacrarem em disputas sem sentido?
(...)
As pessoas muitas vezes deduzem que sou revoltada por ter sido submetida à clitorectomia ou porque meu pai me casou com um desconhecido. Elas nunca deixam de acrescentar que essas coisas são raras no mundo muçulmano moderno. O fato é que centenas de milhões de mulheres, em todo o planeta, vivem em casamentos forçados e que seis mil meninas sofrem citorectomia diariamente. A mutilação não me afetou a capacidade intelctual; e quero ser julgada pela legitimidade dos meus argumentos, não como vítima.
A minha preocução central e motivadora é o fato de as mulheres serem oprimidas no Islã. Essa opressão impõe aos muçulmanos -homens e mulheres - um grande atraso em comparação com o Ocidente. Cria uma cutulra que provoca mais atraso a cada geração; Seria melhor para todos -sobretudo para os maometanos -que essa situação mudasse.
(...)
As pessoas se adaptam. Aquelas que nunca se sentaram em uma cedira aprendem a dirigir um carro e a operar uma máquina complexa; adquirem essa capacidade rapidamente. Do mesmo modo, os maometanos não precisam tardar seiscentos anos para modificar o seu modo de pensar a igualdade e os direitos individuais.
Quando procurei Theo para que me ajudasse a fazer "Submissão", eu queria transmitir três mensagens: primeiro, os homens e até as mulheres poder erguer os olhos e falar com Alá; os crentes têm a possibilidade de dialogar com Deus e de olhar para Ele de perto. Segundo, no islã de hoje, a interpretação rígida do Alcorão condena as mulheres a uma miséria intolerável. Mediante a globalização, cada vez mais homens com tais idéias se instalam na Europa com mulheres que eles possuem e brutalizam, e os europeus e demais ocidentais já não podem continuar fingindo que as graves violações dos direitos humanos só ocorrem em lugares remotos, muito remotos. A terceira mensagem é a frase final do filme: "Nunca me submeterei". É possível libertar-se - adaptar a fé, examiná-la criticamente e verificar até que ponto ela está na raiz da opressão.
Já me disseram que "Submission" é um filme por demais agressivo. Aparentemente, a sua crítica ao islã é muito dolorosa para que um muçulmano a suporte. Diga, não é muito mais doloroso ser uma mulher presa naquela gaiola?

"Infiel", de Ayaan Hirsi Ali.
Fotos: Ayaan e cena de "Submission"

Sunday, June 22, 2008

Talvez...

Estranho como as coisas acontecem.
Como uma decisão -aparentemente inofensiva e insignificante -pode tomar grandes proporções. Como uma pequena atitude pode fazer toda a diferença. Como o sim pode ser tão diferente do não. E como cada uma das duas opções de resposta representa caminhos distintos de acontecimentos.
(Será que sua vida pode mudar por causa de um sim -ou de um não?)
Sempre preferi o sim... o não me parece ser, literalmente, um estraga-prazeres; você está impedindo que algo aconteça. Mas, se for parar para pensar, o não permite que outras coisas aconteçam também... Só que o não é negativo. E eu nunca gostei da palavra "negativo". Se bem que eu prefiro "menos" do que "mais"... ou é ao contrário? Não estou me lembrando agora...
Mas só de pensar que você poderia ter dito "não" naquela ocasião... E que diferença isso teria feito na sua vida!
Nossa... que medo de mim mesma...

Wednesday, June 18, 2008

Conveniência

"O senhor reclama que os EUA são alvo do terrorismo porque defendemos a democracia, a liberdade e os direitos humanos. Que absurdo, Sr. Presidente ! Somos alvos dos terroristas porque, na maior parte do mundo, o nosso governo defendeu a ditadura, a escravidão e a exploração humana. Somos alvos dos terroristas porque somos odiados. E somos odiados porque o nosso governo fez coisas odiosas. Em quantos países agentes do nosso governo depuseram líderes popularmente eleitos substituindo-os por ditadores militares, fantoches desejosos de vender o seu próprio povo às corporações norte-americanas multinacionais ? (...) O povo do Canadá desfruta de democracia, de liberdade e de direitos humanos, assim como o povo da Noruega e da Suécia. Alguma vez o senhor ouviu falar de ataques a embaixadas canadianas, norueguesas ou suecas? Nós somos odiados não porque praticamos a democracia, a liberdade ou os direitos humanos. Somos odiados porque o nosso governo nega essas coisas aos povos dos países do Terceiro Mundo, cujos recursos são cobiçados pelas nossas multinacionais."

Estraído de "Por que é que o mundo odeia os EUA?", carta enviada pelo bispo americano e ex-combatente do Vietnã Robert Bowan ao presidente dos Estados Unidos da America, G. W. Bush.


***



Na foto, o último "rei negro", Mobutu Sese Seko. Mobutu subiu ao poder com ajuda americana e serviu de comandante-fantoche por muitos anos, já que o ex-Zaire -atual República Democrática do Congo -é um dos países com mais riquezas naturais da África.
Apesar de seu regime extremamente ditatorial e sangrento, os Estados Unidos continuaram a apoiar Mobutu por décadas. Quando ele já não era mais conveniente, entretanto, os americanos voltaram a entrar no país, causando a queda do tirano. Não é preciso dizer que o saldo dessa "brincadeirinha" foi de milhões de mortes, certo?

Saturday, June 14, 2008

Terrorismo estatal

Eu, futura jornalista desatualizada que sou, descobri que, no dia 30 de Maio, diplomatas de 111 países se reuniram para assinar um documento visando a proibição do uso de bombas de fragmentação. Segundo o "Estadão", "O documento prevê que os signatários concordaram em proibir, sob qualquer circunstância, o uso, desenvolvimento, fabricação, aquisição e armazenamento desse tipo de munição, cujas vítimas são majoritariamente civis. Eles aceitaram ainda que, nos próximos oito anos, financiarão programas para limpar campos de batalha onde haja cápsulas dormentes do armamento."
Essas bombas, para quem não sabe, são aquelas que se fragmentam no solo soltando várias outras bombinhas por uma extensa área. Assim, a chance de atingir civis é muito grande, já que os fragmentos podem acabar funcionando como minas antipessoais ao permanecerem inativos por meses ou mesmo anos. Por isso, mesmo após o término do conflito bélico em questão, essas bombas continuam a fazer vítimas, sendo que muitas destas são crianças... Isso porque os fragmentos geralmente apresentam uma forte coloração, sendo confundidos com brinquedos.
Eu nem preciso falar, então, que a decisão tomada em Dublin, que tem um prazo de cumprimento para 2009, é muito boa, certo?
A questão, porém, é que ela não é tão boa assim... Ela não é tão boa assim porque o maior produtor e consumidor das bombas de fragmentação não aceitou o tratado. Alegando que essa decisão iria afetar os conflitos em que estivesse envolvido, os Estados Unidos -assim como o seu fiel escudeiro, Israel -não concordaram com a proibição. Apesar de, segundo as palavras de seu diplomata, preocupar-se enormemente com as questões humanitárias envolvidas...
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Menino iraquiano vítima das bombas de fragmentação.

Segundo denúncia da Human Rights Watch, no Afeganistão ainda permanecem sem explodir 250 mil projéteis disseminados pelas bombas norte-americanas. Durante a própria guerra, os afegãos as confundiam com as rações lançadas por ajudas humanitárias, já que apresentavam a mesma cor e formato.
Em 1999, na Sérvia, os Aliados soltaram bombas de fragmentação, sendo que cada arma possuía 202 minibombas em pequenos cilindros amarelos que lembravam garrafas de bebida.
Segundo a ONU, em 2006, Israel lançou 4,3 milhões de sub-munições de bombas de fragmentação no Líbano, das quais mais de 1 milhão não explodiu. Detalhe óbvio é que todas eram de origem americana.
O iraque também acabou se transformando em um campo minado, pois as bombas foram lançadas indistintamente, inclusive em lavouras e áreas residenciais.
Só para não me estender muito, segundo um relatório da Handicap Internacional, 98% das vítimas deixadas pelas bombas de fragmentação são civis.
E sim, claro... Os Estados Unidos se importam, de fato, com as questões humanitárias.