Wednesday, November 28, 2007

Encosto

Cara, imagina morar sozinha em São Paulo???
É que eu ainda não via essa possibilidade como uma... ér... possibilidade. Até esse fim de semana :)
O engraçado é que eu não me preparei para fazer fuvest. Já tinha lido os livros, mas, sei lá, sempre vi o pessoal que tenta a usp como aqueles cdfs que estudam a tarde inteira e também no fim de semana e, sabe, eu não estudei tanto assim... Na verdade, eu não estudei nada do que deveria ter estudado esse ano. Ou seja, a única explicação viável para minha pontuação na prova da fuvest é a de que um espírito inteligente baixou em mim na hora. E eu estou falando sério.
Mas vamos ver a segunda fase, certo? Daqui a pouco eu recobro minhas condições normais e faço uma prova péssima. Ou daqui a pouco o corte desse ano sobe dez questões... Ai, que orgulho desse meu espírito! Dez questões de folga na prova da fuvest *.*
Agora na ufba ninguém faz isso, né??! Não sei qual é o meu problema. A ufba é bem mais fácil do que a fuvest, então qual foi drama? Nervosismo? Saber que você -teoricamente -estudou o ano todo para fazer a prova daquele dia específico? Ou seja, se você for mal, você vai ter que passar mais um ano estudando tuuuuudo de novo e ouvindo as mesmas piadas dos professores o.O
Bah. Vestibular é uma merda. Uma merda necessária, mas tudo bem...
Mas eu só sei que, se passar em São Paulo -uma coisa difícil, pois a segunda fase deve ser cheia de coisas falando do próprio estado e talz...-, eu vou. Sinto muito, mamãe.

Wednesday, November 21, 2007

Destino?

Só porque hoje, no colégio, duas pessoas que não conheço simplesmente me cutucaram e falaram: "Oi, você vai fazer jornalismo, não é?". Quando eu perguntei como elas sabiam disso, falaram que eu tinha cara de jornalista. Cara, jeito, tudo de jornalista, até mesmo o livro que eu estava lendo ("Prisioneira em Teerã", de Marina Nemat) tinha dado essa impressão. Não sei se entendi muito bem a lógica disso, mas o que posso fazer? Fiquei muito feliz! Acho que existem coisas certas demais a ponto de transparecerem, se é que você me entende... Embora eu não seja supersticiosa para acreditar em destino. :)

E em falar em Jornalismo, eu não podia deixar de colocar a capa de uma das melhores revistas brasileiras, a Caros Amigos.

Tuesday, November 20, 2007

Lista de Livros 2007

  • Memórias da Segunda Guerra mundial - volume 2/1941-1945, Winston Churchill. *
  • Viva o povo brasileiro, João Ubaldo Ribeiro. **
  • Orgulho e Preconceito, Jane Austen. *
  • Guia essecial da bruxa solitária, Scott Cunninghan.*
  • O Ateneu, Raul Pompéia. *
  • Equador, Miguel Sousa Tavares. **
  • Memórias de uma Gueixa, Artur Golden. *
  • A menina que roubava livros, Markus Susak. **
  • A moreninha, Joaquim Manuel de Macedo. *
  • Memórias póstumas de Braz Cubas, Machado de Assis. *
  • A mão e a luva, Machado de Assis.
  • O Guarani, José de Alencar.
  • O primo Basílio, Eça de Queiroz.
  • Memórias de um sargento de milícias, Manuel Antônio de Almeida.
  • O messias de Duna, Frank Herbert. *
  • A princesa no limite, Meg Cabot.
  • Harry Potter and the deathly Hallows, J. K. Rowling (fora de ordem). *
  • A cidade e as serras, Eça de Queiroz.
  • A revolução dos bichos, George Orwell. *
  • Iracema, José de Alencar. *
  • Poemas completos de Alberto Caeiro, Fernando Pessoa. *
  • A rosa do povo, Carlos Drummond de Andrade (segunda vez). **
  • A cidade do sol, Khaled Hosseini. **
  • Os filhos de Duna, Frank Herbert.

Livros que li até agora, nesse ano. A maioria foi por causa do vestibular, mas pelo menos já atingi minha cota de 24 por ano (dois por mês)!! Os livros que não gostei, assinalei com um asterisco preto ao lado, enquanto que os com asterisco vermelho são aqueles que recomendo (mais de um asterisco é porque é realmente muuuito bom :D). Os não assinalados me são indiferentes (mas não quer dizer que não são bons).

Sunday, November 18, 2007

Sonhos

"Se fosse possível a nossos olhos de carne contemplar a consciência alheia, julgaríamos com mais segurança a personalidade de um homem pelo que sonha fazer do que pelo que realmente faz. O pensamento supõe a vontade; o sonho não. O sonho que é completamente espontâneo, conserva, mesmo quando irrealizável, o perfil de nossa espiritualidade; nada sai mais diretamente e mais sinceramente do fundo de nossa alma que as nossas aspirações irrefletidas e sem limites para os esplendores do destino. Nessas aspirações, muito mais que nas idéias coordenadas, refletidas, sensatas pode encontrar-se o caráter de cada homem. Nossas quimeras são as que mais se assemelham a nós. Cada um sonha com o desconhecido e o impossível segundo a própria natureza."
***
"Logo mais, na restauração, uma bandeira tremulará em toda parte, ao lado de todas: a da Paz; um idioma se falará junto aos demais: o da Fraternidade; um ideal se fará presente no meio dos outros: o do progresso; uma Religião única estabelecerá a ponte de união entre o Homem e Deus: a do Amor Universal...."
Victor Hugo.

Friday, November 16, 2007

Um relato



"Eu me sento com as crianças. As roupas delas têm tantos buracos. Elas estão caindo aos pedaços. As crianças não têm sapatos. Eu peço ao tradutor para por favor falar, "Vocês têm passado por muita coisa. Vocês têm sido muito fortes.". Alguns sorriem. Outros inclinam a cabeça. Elas querem que eu saiba que elas faltam escola. "O que elas precisam?" "Primeiro comida e então água." "Elas têm algum remédio?" "Não." Eu noto muitos cortes. O olho de uma menina pequena está fechado e inchado como uma bola de golfe. Talvez um inseto. Nenhum médico está aqui para examinar o olho.

"Antes da luta, como era a vida de vocês?". Escola, muitas frutas. Algumas não sabem aonde os pais estão. Elas esperam que estejam vivos "em Chad ou no Oriente Médio". "Algumas de nós são orfãs vivendo com outras famílias.".

Elas me contam como foram mal-tratadas. Abda foi amarrado pelo pescoço e surrado e depois abandonado para morrer. Seu pai foi morto pelos Janjaweed. Ele tem dez anos de idade.

Elas estão preocupadas de ficar frio nos próximos dias. Eu perguntaria o que normalmente pergunto. O que você quer ser quando crescer? Ou qual o seu esporte favorito ou comida, etc. Mas perguntar a essas crianças seria cruel. Elas não têm infância e nem esperança.

Elas apertam mãos e tocam corações. Eu faço o mesmo.

Eu prometo que encontrarei um modo de ajudar, mas mesmo enquanto digo isso me sinto desamparada."

Diário da sua ida ao Sudão, por Angelina Jolie, embaixatriz da UNHCR.
Angelina conversando com mulheres refugiados no Chad, vindas de Darfur, no Sudão.

Tuesday, November 13, 2007

O ceticismo do cientista

"Volta e meia, leitores me questionam sobre o que lhes parece ser o exagerado ou pouco razoável ceticismo do cientista. As abordagens variam. Algumas vezes, acham inconsistente um cientista se dizer ateu quando não pode responder a certas questões básicas, como, por exemplo, a origem do Universo ou da vida. Dizem eles: "Vocês falam do Big Bang, o evento que iniciou tudo. Mas de onde veio a energia que provocou esse evento? Como falar de algo material surgindo do nada, sem a ação de um ser imaterial, isto é, divino?" Outras críticas dizem respeito à descrença em fenômenos paranormais, sobrenaturais, OVNIs e seres extraterrestres, espiritismo etc.
Segundo estatísticas recentes feitas pela fundação Gallup nos Estados Unidos, em torno de 50% dos americanos acreditam em percepção extra-sensorial. Mais de 40% acreditam em possessões demoníacas e casas mal-assombradas, e em tomo de 30% crêem em clarividência, fantasmas e astrologia. Não conheço estatísticas semelhantes para o Brasil, mas imagino que os números devam ser no mínimo comparáveis.
Sem a menor dúvida, a luta do cético é ingrata; ele estará sempre em minoria. Existem muito mais colunas sobre astrologia do que sobre astronomia ou ciência nos jornais e revistas do Brasil e do mundo. Mas, sem ceticismo, a sociedade estaria fadada a ser controlada por indivíduos oportunistas que se alimentam dessa necessidade muito humana de acreditar. Ela existe para todos não há dúvidas. Mesmo o cético deve acreditar no poder da razão para desvendar os muitos mistérios que existem. A paixão que o alimenta é a mesma do crente, mas direcionada em sentido oposto.
Devido a esse ceticismo, muitas vezes os cientistas (incluindo este que lhes escreve) são acusados de insensibilidade. De jeito nenhum. Eu tenho grande respeito pelos que acreditam. O que me é difícil aceitar é a exploração que existe em torno dessa necessidade, a exploração da fé. Na Índia, por exemplo, recentemente apareceram milhares de "homens-deuses", que se dizem meio deuses, meio gente. No México, funcionários do governo frequentam seminários sobre como usar o poder dos anjos. O Peru está cheio de psíquicos, enquanto na França são aromaterapeutas. Testes em laboratório visando verificar poderes extra-sensoriais invariavelmente falham.
(...)
Voltando à questão do Big Bang. A religião não deve existir para tapar os buracos da nossa ignorância. Isso a desmoraliza. É verdade, não podemos ainda explicar de forma satisfatória a origem do Universo. Existem inúmeras hipóteses, mas nenhuma muito convincente. Mesmo se tivéssemos uma explicação científica, sobraria uma outra questão: o que determinou o conjunto das leis físicas que regem este Universo? Por que não um outro? Existe aqui uma confusão sobre qual é a missão da ciência. Ela não se propõe a responder a todas as questões que afligem o ser humano.
A ciência, ou melhor, a descrição científica da natureza, é uma linguagem criada pelos homens (e mulheres) para interpretar o cosmo em que vivemos. Ela não é absoluta, mas está sempre em transição, gradativamente aprimorada pela validação empírica obtida através de observações. A ciência é um processo de descoberta, cuja língua é universal e, ao menos em princípio, profundamente democrática: qualquer pessoa, com qualquer crença religiosa ou afiliação política, de diferentes classes sociais e culturas pode participar desse debate. (Claro, na prática a situação é mais complexa. )
Ela não terá jamais todas as respostas, pois nem sabemos todas as perguntas. O cético prefere viver com a dúvida do que aceitar respostas que não podem ser comprovadas, que são aceitas apenas pela fé. Para ele, o não saber não gera insegurança, mas sim mais apetite pelo saber. Essa talvez seja a lição mais importante da ciência, nos ensinar a viver com a dúvida, a idolatrá-la. Pois, sem ela, o conhecimento não avança."

Marcelo Gleiser, "O ceticismo do cientista", Folha de S. Paulo, 16 de março de 2003.

Monday, November 12, 2007

Perpetuação?


"A Atrocidade é reconhecida como tal igualmente por aquele que a sofre como por aquele que a comete, e por todos que dela tomam conhecimento em qualquer lugar. Não existem desculpas para a atrocidade, nenhum argumento que a alivie. A atrocidade nunca equilibra ou corrige o passado. Meramente prepara o futuro para mais atrocidades. Ela é autoperpetuadora... uma forma bárbara de incesto. Quem quer que cometa atrocidades torna-se também responsável pelas futuras atrocidades assim geradas."

" Os Apócrifos do Muad'Dib", em "Os Filhos de Duna", Frank Herbert.
Campo de refugiados afegão no Paquistão.

Saturday, November 10, 2007

E justifica?

Pequena. É exatamente assim que eu me sinto diante de tudo isso.
É tanta morte, tanta dor, tanto sofrimento... Por que essas coisas acontencem? O que leva um homem a machucar outro? Nossa, eu juro que não sei. E essa pergunta pode parecer clichê de sentimentalistas por aí, mas é que ela não sai de minha cabeça. Afinal, todos já sentiram dor. E não gostaram.
Como não acredito em maniqueísmo, essa reposta de que é porque existem homens cruéis não me satisfaz. Eu também posso ser uma pessoa cruel às vezes. Mas também posso ser boa e posso não ser nada, então não acredito em pessoas naturalmente boas ou naturalmente más. Hitler, por exemplo, não era um demônio, como muitos gostam de falar, mas um homem. Talvez um homem com mais problemas do que a maioria de nós; ele teve uma vida difícil em um país acabado pela guerra, aonde as pessoas, que haviam sido criadas para acreditar em sua superioridade, não acreditavam em mais nada, nem nelas mesmas. Viveu horrores no exército, passou por miséria e teve seu sonho rejeitado duas vezes -não conseguiu entrar para a escola de artes, rejeitado em ambas as vezes por um professor judeu, a propósito. Hitler, porém, encontrou o seu refúgio: a ideologia nazista. Ela lhe explicava o porquê de tudo que lhe acontecera: a sua miséria, a derrota ariana, o fracasso de sua vida. E ele, obviamente, agarrou-se a ela com fervor, como um velho no final da vida que passa a acreditar em Deus e paraíso apenas para continuar a viver. O problema com Hitler foi que ele teve poder demais em suas mãos. Poder demais, raiva demais, ódio demais. E as pessoas acreditaram nele.
A vida de Hitler, suas derrotas, traumas, problemas -mentais ou não-, porém, não justificam o que ele fez. Não justificam os seis milhões de judeus mortos, nem mais uns três de ciganos, negros e homossexuais. Nem também os 25 milhões de russos mortos. Mas eu quero chegar justamente nesse ponto: ele fez o que fez porque pôde fazer e tinha apoio para tal. Apoio popular -por pessoas alienadas pela fome, pelo patriotismo, pelo sonho de glória, pela força de um líder em um país destruído. Se o partido Nacional-socialista não tivesse crescido tanto, nada disso teria acontecido. Portanto, passando já para a esfera atual, será que nós concordamos e ajudamos a realizar toda essa miséria, carnificina, morte, dor e fome? Esses líderes -donos de corporações, presidentes, políticos, guerrilheiros, reis, ditadores... - apenas massacram e destróem porque tem o nosso apoio ou a nossa negligência?
Ainda pensando em Hitler, também não acredito que cada um desses homens por aí seja alienado por uma ideologia e tenha tido uma vida difícil -que, repito, mesmo assim, não justifica, já que muitos de nós também tiveram uma vida difícil e ainda conseguiram agir com ethos civilizacional, tendo poder ou não nas mãos. Sei, porém, que uma das forças mais poderosas do mundo pode fazer o homem negar a sua humanidade e realizar qualquer tipo de barbárie, e essa força é a ganância. Ou ambição, se preferir. É ela que cega um homem a ponto de matar um irmão de fome, deixá-lo viver em condições sub-humanas, sem educação, água, comida. É ela também que joga bombas ao redor do mundo, em busca de mais e mais riqueza, indiferente se está matando pessoas ou não. A ganânca é a responsável pela decadência da humanidade.
Mas não gosto da palavra "cegar". Acredito que, hoje, ninguém é mais ingênuo para ignorar as consequências de seus atos. Também não são ingênuos os que percebem esses atos e não fazem nada. Nós sabemos. Quem hoje acredita que existam bombas de destruição em massa no Iraque? Ou que havia milhares de campos de treinamentos terroristas no Afeganistão - e mesmo que existissem, todos nós sabemos o porquê dessa existência, e o que a causou (sem, novamente, justificar nada) - e que Bin Laden estava lá? Quem acredita que os exércitos internacionais e os grupos de ajuda apenas não entram em determinados locais da África porque é inviável ou porque o governo local é corrupto ou totalitarista? Quem ainda acha que na favela só tem bandido, e que nossa polícia pode, por isso, já chegar atirando lá? Quem cai na ladainha de que em Cuba só tem miséria e pobreza? Quem? Ou será que estou enganada?
Ah, sabe de uma? Não sei. E às vezes dá vontade de desistir, de deixar tudo de lado, de esquecer o resto do mundo e ir viver minha vida. Bem que eu queria isso, talvez eu fosse mais feliz, não é? Mas não consigo. Não consigo não pensar nos milhares de africanos que estão morrendo de fome nesse exato minuto. Nas crianças de todo o mundo, perecendo de doenças que já deixaram de exitir em países mais ricos. Nos nossos favelados, sem uma oportunidade de acabar com o ciclo vicioso -e imposto -do pobre de ser também pobre e analfabeto. Nas mulheres árabes, africanas, asiáticas, americanas, todas as mulheres que são criadas para crer que são inferiores por serem mulheres, e não podem mostrar seus rostos, não podem ter prazer e não podem ter vida própria, que são surradas pelos maridos, que recebem salários mais baixos. Pode me chamar de assistecialista, mas se eu pudesse -e soubesse como e tivesse a coragem -para ajudar todos eles, eu ajudaria.
Você também tem o direito de achar isso uma bobagem. Ou de não achar nada, sei lá. É só uma viagem de uma menina de 17 anos.