Saturday, November 10, 2007

E justifica?

Pequena. É exatamente assim que eu me sinto diante de tudo isso.
É tanta morte, tanta dor, tanto sofrimento... Por que essas coisas acontencem? O que leva um homem a machucar outro? Nossa, eu juro que não sei. E essa pergunta pode parecer clichê de sentimentalistas por aí, mas é que ela não sai de minha cabeça. Afinal, todos já sentiram dor. E não gostaram.
Como não acredito em maniqueísmo, essa reposta de que é porque existem homens cruéis não me satisfaz. Eu também posso ser uma pessoa cruel às vezes. Mas também posso ser boa e posso não ser nada, então não acredito em pessoas naturalmente boas ou naturalmente más. Hitler, por exemplo, não era um demônio, como muitos gostam de falar, mas um homem. Talvez um homem com mais problemas do que a maioria de nós; ele teve uma vida difícil em um país acabado pela guerra, aonde as pessoas, que haviam sido criadas para acreditar em sua superioridade, não acreditavam em mais nada, nem nelas mesmas. Viveu horrores no exército, passou por miséria e teve seu sonho rejeitado duas vezes -não conseguiu entrar para a escola de artes, rejeitado em ambas as vezes por um professor judeu, a propósito. Hitler, porém, encontrou o seu refúgio: a ideologia nazista. Ela lhe explicava o porquê de tudo que lhe acontecera: a sua miséria, a derrota ariana, o fracasso de sua vida. E ele, obviamente, agarrou-se a ela com fervor, como um velho no final da vida que passa a acreditar em Deus e paraíso apenas para continuar a viver. O problema com Hitler foi que ele teve poder demais em suas mãos. Poder demais, raiva demais, ódio demais. E as pessoas acreditaram nele.
A vida de Hitler, suas derrotas, traumas, problemas -mentais ou não-, porém, não justificam o que ele fez. Não justificam os seis milhões de judeus mortos, nem mais uns três de ciganos, negros e homossexuais. Nem também os 25 milhões de russos mortos. Mas eu quero chegar justamente nesse ponto: ele fez o que fez porque pôde fazer e tinha apoio para tal. Apoio popular -por pessoas alienadas pela fome, pelo patriotismo, pelo sonho de glória, pela força de um líder em um país destruído. Se o partido Nacional-socialista não tivesse crescido tanto, nada disso teria acontecido. Portanto, passando já para a esfera atual, será que nós concordamos e ajudamos a realizar toda essa miséria, carnificina, morte, dor e fome? Esses líderes -donos de corporações, presidentes, políticos, guerrilheiros, reis, ditadores... - apenas massacram e destróem porque tem o nosso apoio ou a nossa negligência?
Ainda pensando em Hitler, também não acredito que cada um desses homens por aí seja alienado por uma ideologia e tenha tido uma vida difícil -que, repito, mesmo assim, não justifica, já que muitos de nós também tiveram uma vida difícil e ainda conseguiram agir com ethos civilizacional, tendo poder ou não nas mãos. Sei, porém, que uma das forças mais poderosas do mundo pode fazer o homem negar a sua humanidade e realizar qualquer tipo de barbárie, e essa força é a ganância. Ou ambição, se preferir. É ela que cega um homem a ponto de matar um irmão de fome, deixá-lo viver em condições sub-humanas, sem educação, água, comida. É ela também que joga bombas ao redor do mundo, em busca de mais e mais riqueza, indiferente se está matando pessoas ou não. A ganânca é a responsável pela decadência da humanidade.
Mas não gosto da palavra "cegar". Acredito que, hoje, ninguém é mais ingênuo para ignorar as consequências de seus atos. Também não são ingênuos os que percebem esses atos e não fazem nada. Nós sabemos. Quem hoje acredita que existam bombas de destruição em massa no Iraque? Ou que havia milhares de campos de treinamentos terroristas no Afeganistão - e mesmo que existissem, todos nós sabemos o porquê dessa existência, e o que a causou (sem, novamente, justificar nada) - e que Bin Laden estava lá? Quem acredita que os exércitos internacionais e os grupos de ajuda apenas não entram em determinados locais da África porque é inviável ou porque o governo local é corrupto ou totalitarista? Quem ainda acha que na favela só tem bandido, e que nossa polícia pode, por isso, já chegar atirando lá? Quem cai na ladainha de que em Cuba só tem miséria e pobreza? Quem? Ou será que estou enganada?
Ah, sabe de uma? Não sei. E às vezes dá vontade de desistir, de deixar tudo de lado, de esquecer o resto do mundo e ir viver minha vida. Bem que eu queria isso, talvez eu fosse mais feliz, não é? Mas não consigo. Não consigo não pensar nos milhares de africanos que estão morrendo de fome nesse exato minuto. Nas crianças de todo o mundo, perecendo de doenças que já deixaram de exitir em países mais ricos. Nos nossos favelados, sem uma oportunidade de acabar com o ciclo vicioso -e imposto -do pobre de ser também pobre e analfabeto. Nas mulheres árabes, africanas, asiáticas, americanas, todas as mulheres que são criadas para crer que são inferiores por serem mulheres, e não podem mostrar seus rostos, não podem ter prazer e não podem ter vida própria, que são surradas pelos maridos, que recebem salários mais baixos. Pode me chamar de assistecialista, mas se eu pudesse -e soubesse como e tivesse a coragem -para ajudar todos eles, eu ajudaria.
Você também tem o direito de achar isso uma bobagem. Ou de não achar nada, sei lá. É só uma viagem de uma menina de 17 anos.

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