Tuesday, October 28, 2008

Morgana fala...

"Em vida, me chamaram de muitas coisas: irmã, amante, sacerdotisa, maga, rainha. Na verdade, cheguei agora a ser maga, e poderá vir um tempo em que tais coisas devam ser conhecidas. Verdadeiramente, porém, creio que os cristãos dirão a última palavra. O mundo das fadas afasta-se cada vez mais daquele em que Cristo predomina. Nada tenho contra o Cristo, apenas contra os seus sacerdotes, que chamam a Grande Deusa de demônio e negam o seu poder no mundo. Alegam que, no máximo, esse seu poder foi o de Satã. Ou vestem-na com o manto azul da Senhora de Nazaré -que realmente foi poderosa, ao seu modo -, que, dizem, foi sempre virgem. Mas o que pode uma virgem saber das mágoas e labutas da humanidade?"
"As Brumas de Avalon", M. Z. Bradley
"The Magic Circle", pintura de John Waterhouse.

Sunday, October 26, 2008

Not heavy at all

na na na na naaaaaa!

Leve, leve, leve com preocupações, mas leve.


obs: só um lembrete para mim mesma.

Thursday, October 23, 2008

E-waste

'Milhares de toneladas de 'e-waste' (lixo eletrônico como computadores descartados, celulares e televisões) são jogados na África e na Ásia todos os anos. Nossa pesquisa (Greenpeace) mostra que parte desse 'desperdício' é levado para o Paquistão.
No distrito Lyari de Karachi, centenas de trabalhadores, inclusive crianças e adolescentes, ganham suas vidas desmontando os lixos eletrônicos e extraindo componentes valiosos para vender. Esse trabalho é uma viagem por dentro do custo pessoal do 'e-waste'."
O fotojornalista independente Robert Knoth acampanhou, em junho desse ano, um carregamento de "e-waste" da Europa até sua parada final, no Paquistão. Incrível como o que uns consideram lixo pode garantir a sobrevivência dos outros... Ou não, já que muitos paquistaneses e afegãos -refugiados, é claro -que trabalham com o "e-waste" acabam se contaminando com os resíduos tóxicos dos eletrônicos.
Aqui está o link das fotos com narração do próprio Robert; é rapidinho e vale a pena dar uma olhada...

Wednesday, October 22, 2008

Just numb

Hello, is there anybody in there?
There is no pain, you are receding
A distant ship smoke on the horizon
You are only coming through in waves
Your lips move but I can't hear what you're saying

When I was a child I had a fever
My hands felt just like two balloons
Now I've got that feeling once again
I can't explain, you would not understand
This is not how I am...

...I have become comfortably numb.

"Comfortably numb", Pink Floyd.

E Carrie... no zsa zsa zsu at all.

Tuesday, October 21, 2008

Mas...

Está tudo certo, mas...



...cadê o zsa zsa zsu, Carrie?

***

E a latinha corria, corria e corria, sem vento, sem lamento, sem impulso. A rua deserta e escura, apenas a luz bruxuleante do poste, e nem ao menos uma alma companheira para lhe indicar que, "hei, você não está sozinha, existe vida nesse lugar!". Nem uma alma.

E a latinha corria, corria e corria, e seus olhos a seguiam despreocupadamente, talvez pensando naquelas aulas que tivera há uns anos -o vento? a inércia? e o atrito? Talvez a mente estivesse mais longe do que isso -muito longe!, em que zona mesmo de São Paulo?

Mas a latinha parou. E o vento parou. E qualquer ruído cessou também. E veio. Veio aquilo que não vinha há muito tempo, aquele peso, aquele aperto, aquela dor, aquela angústia. Nem se lembrava mais como era ter aquilo, mas no momento em que sentiu, uma familiaridade cruel lhe invadiu a mente.

Sem mais nem menos, sem motivo exato, sem razão. Apenas sentiu, e como nunca sentira antes. "A dor dos outros", alguém lhe dissera um dia, "Você tem essa mania de carregar a dor do mundo nas suas costas... e isso lhe faz muito mal." E era exatamente essa a impressão que teve; era a dor dos outros, a dor que alguém deixara ali, naquela esquina, naquela latinha, naquela luz bruxuleante, que ela estava sentindo agora. Roubara o sentimento alheio -ou estava apenas dividindo, compartilhando, se compadecendo?

E era certo fazer aquilo? Ela não pedia, apenas sentia... mas nunca como naquela noite. Não foi espontâneo, não foi controlável, não foi passageiro. E lhe inundou como um avalanche, como um peso enorme no peito, um aperto na garganta, como se garras lhe arranhassem por todos os lados.

"Isso não é meu."

Todas as outras vezes, conseguira encontrar uma explicação. Certa vez fora uma música -do Pink Floyd, será? -com uma certa batida ritmada que lhe despertara aquilo... Outras vezes, fora aquele pesadelo, o única que tinha e que se repetia de tempos e tempos... Outra vez fora um filme, a fala de alguém, algum gesto... Mas nunca assim. Nunca com uma latinha, nunca com um passo, nunca em uma esquina deserta, de repente.

Acelerou o passo. Não queria ficar ali sozinha. Não se impediu, porém, de olhar para o céu - mas cadê ela? Cadê a lua, estava escondida aonde, atrás de que nuvem? Tinha que vê-la, será que estava estranha? Será que estava vermelha, com aquele círculo em volta? Ou estava branca e gélida, como as garras que tentavam púxá-la de volta para a esquina?

Não olhou mais para trás. Tinha medo do que poderia ver, ainda mais agora que o peso descera para as suas pernas, e ela arquejava para alcançar a porta do seu prédio. E sentiu - sentiu uma lágrima se formar em seu olho. Uma lágrima!

E a surpresa lhe trouxe de volta para a realidade. "Lágrima?"

Não. Eu não choro.

Sunday, October 19, 2008

Entre céus e pêras


"Agora considere nosso cone de luz do passado, ou seja, os percursos no espaço-tempo dos feixes de luz de galáxias distantes que nos alcançam no presente. Em um diagrama com o tempo traçado para cima e o espaço traçado para os lados, esse é um cone com seu vértice, ou ponta, em nós. À medida que voltamos no passado, descendo o cone a partir do vértice, vemos galáxias em épocas cada vez mais remotas. Como o universo vem se expandindo e tudo costumava estar bem mais próximo entre si, ao olharmos ainda mais longe no passado, estamos olhando regiões de densidade de matéria maior. Observamos um fraco fundo de radiação em microondas que se propaga até nós ao longo de nosso cone de luz do passado proveniente de uma época muito mais remota, quando o universo era muito mais denso e quente do que é agora.

(...)

Assim, podemos concluir que nosso cone de luz do passado precisa passar por certa quantidade de matéria quando alguém retrocede por ele. Essa quantidade de matéria é suficiente para curvar o espaço-tempo, arqueando os feixes de luz em nosso cone de luz do passado para trás, em direção uns aos outros.

À medidade que se retrocede no tempo, os cortes transversais de nosso cone de luz do passado atingem um tamanho máximo e começam a diminuir novamente. Nosso passado tem forma de pêra.

À proporção que se retrocede ainda mais por nosso cone de luz do passado, a densidade de energia positiva da matéria faz os feixes de luz se arquearem em direção uns aos outros mais fortemente. O corte transversal do cone de luz encolherá até o tamanho zero em um tempo finito. Isso significa que toda a matéria dentro do nosso cone de luz do passado está presa em uma região cujo limite encolhe pra zero (...), no chamado big-bang."

"O universo numa casca de noz", Stephen Hawkings.

***

"Calinha?"
"Oi, amor?"
"Por que é que você olha tanto para o céu?"
"Quando você crescer e ficar grandão que nem Calinha..."
"Que nem Calinha não, porque eu não vou ter cabelo grande, não vou ter peitos e nem vou usar batom."
"Hmm... tá, que seja. Quando você for grandão que nem papai então, e estudar muito que nem Calinha ;), você vai entender."
"Vou?"
"Vai. E se você não entender, você pode perguntar pra mim."
"Então eu posso perguntar agora?"
"Não, Paulinho, só quando você estiver grandão que nem papai!"
"Ah... então quando eu estiver grandão que nem Calinha, eu pergunto..."

"Estudar muito"...
Só pra não desmotivar meu irmão, sabe como é... :)

Thursday, October 16, 2008

Nostalgia II

Saudade de andar sentindo a brisa no rosto, na orla, com as amigas de sempre -DE SEMPRE, PRA SEMPRE! -, falando sobre coisas quaisquer, desinteressantes ou não.
Saudade de rir sem parar, saudade daquele sorriso quando pensava naquela coisa -ou naquela pessoa.
Saudade de sair sem destino, saudade de correr na praia às três da manhã...
Saudade de acordar de manhã e ver mensagens de voz estranhas - ou não.
Saudade de ir embora de casa na sexta e só voltar no domingo, com os pais preocupados.
Saudade das luzes roxas, do cheiro de cigarro, dos cabelos grandes, dos óculos escuros, dos mendingos e das prostitutas da Barra.
Saudade de quando aquela música começava a tocar.
Saudade de ir visitar a melhor amiga e ter que acordá-la aos berros para contar todas as novidades -e saudade da expressão que surgia no rosto dela à cada palavra minha, à cada noite contada...
Saudade de Led Zeppelin, de The Doors, de Pink Floyd, de Velhas Virgens, de Rita Lee.
Saudade das apostas nas festas, saudade da surpresa no rosto das pessoas, saudade de beber direto da garrafa.
Saudade de não ter nada o que fazer com aquela amiga, e ir pro posto mais badalado de Salvador... ;)
Saudade de sentar na cama quebrada.
Saudade de tirar cartas de tarô e ler runas para elas -as de sempre!
Saudade das previsões apocalípticas -quem ia mesmo engravidar? Quem ia mesmo voltar para o inferninho que chamaram de Jequi... é?
Saudade das pragas jogadas - "porque um dia você vai se apaixonar, menina, e aí vai pagar por tudo que já fez e já falou!"
Saudade das preocupações, saudades das provinhas, saudade de sonhar com o futuro.
Saudade de sentar naquele bar, vendo o mar enquanto uma banda de rock qualquer tocava músicas conhecidas.
Saudade de... saudade de tudo.
Saudade do ano passado.
Saudade de tudo que já fui, de tudo que já foi.

Sunday, October 12, 2008

Fantasmas coloniais


"As democracias não nascem plenamente desenvolvidas de noite para o dia, nem necessariamente há uma linha clara dividindo governo democrático e autocracia. Normalmente a democracia pode ser vista como um continuum. A sociedade civil e instituições democráticas como partidos políticos e ONGs tendem a se desenvolver lentamente ao longo do tempo, um passo fundamental de cada vez.

A verdadeira democracia é definida não apenas por eleições, mas pelo governo democrático que se segue a elas. Os elementos fundamentais do governo democrático são mais do que apenas eleições livres e justas. Incluem a proteção dos direitos políticos daqueles que fazem oposição política, o livre funcionamento da sociedade civil, imprensa livre e um judiciário independente. Com excessiva frequência no mundo em desenvolvimento - incluindo o mundo islâmico em desenvolvimento - , as eleições são vistas como a única coisa importante. O processo eleitoral é democrático, mas é aí que a democracia termina. O que se segue é equivalente a um regime autoritário de partido único. Isso é o oposto do verdadeiro governo democrático, que se baseia em poder constitucional partilhado e responsabilidade. E como o governo democrático se baseia em um continuum de experiência, a duração dessa experiência está diretamente ligada à sustentabilidade do próprio governo democrático. Em outras palavras, quanto mais tempo durao governo democrático, mais forte o sistema democrático.

(...)

Temos de pensar em uma nova democracia como um pequeno broto que precisa ser adubado, regado, cuidado e ter tempo para se transformar em uma árvore poderosa. Portanto, quando experiências democráticas são prematuramente interrompidas ou destruídas, os efeitos podem ser, se não permanentes, certamente muito duradouros. Suspensões internas ou externas da democracia (tanto eleições quanto governo) podem ter efeitos que se estendem por várias gerações.

(...)
A experiência colonial de muitos países muçulmanos contribuiu para as dificuldades que eles enfrentam para sustentar a democracia. Na ausência de apoio adequado e sem o tempo e a dedicação necessários para construir uma infra-estrutura democrática, eles fracassaram no fortalecimento de seus processos eleitorais e de governo. Muitos dos países abordados neste capítulo [Irã, Argélia, Líbia, Tunísia, Marrocos, Egito, Iraque, Afeganistão, Comores, Líbano, Paquistão, Bangladesh, Jordânia, Palestina] foram expostos a valores democráticos, ideais democráticos e o gradual desenvolvimento de instituições políticas e sociais quando estavam sob administração colonial ou pouco depois. Contudo, suas nascentes democráticas muitas vezes foram esmagadas pelos interesses estratégicos das potências ocidentais (frequentemente se valendo de elementos da própria sociedade) antes de se transformarem em sistemas democráticos viáveis."



"Reconciliação - Islamismo, Democracia e o Ocidente", Benazir Bhutto.
Foto: Benazir, duas vezes primeira-ministra do Paquistão, morta em atentado terrorista em 2007, quando retornava do exílio.

Friday, October 10, 2008

Diane III

"Identical twins", Diane Arbus.
Olhando as fotos dela, dá para entender o porquê do seu suicídio...

Wednesday, October 08, 2008

Let's see...

Okay, here we go.
I'm not the kind of person who creates a blog to be a confessionary. Actually, I'm not like that at all, and I guess it's just because I feel a little naked when people know my deep thoughts and feelings. And by the way, that is - or was, now - one of my secrets. Yet, I'm here right now writing what it feels to be a personal thing -or post, whatever.
It's just that... Well, I think all of my friends that have been reading my posts for the last two years in this blog know that I'm not into this thing of judging people who make mistakes. Linguistic mistakes, I mean. I totally agree with that portuguese professor who writes on Caros Amigos -Magno something... don't remeber right now and I'm not in the mood to get an edition to search for his name, so... lets just call him "whatsisname". So, Whatisname says that there's nothing wrong about making mistakes as long as you can achieve the greatest goal of talking; as long as you can communicate, as long as you can transmit your thoughts and ideas, there's nothing wrong about saying things like "pentiar" and "nós vai". And, you know, we're talking about a country that doesn't provide a proper education to all of its population. So how can we judge someone else's way of talking, for god's sake? And even if the person has had a good education and all, we shouldn't critize that aspect of the communication process...
I mean, I do know it's hard not to notice some mistakes, but it's only because we are used to the so called correct way of speaking. I mean, come on, when we are kids or when we don't go to school, we learn a very reasonable and satisfying way of talking that suites everybody lives and needs. But then, when we go to school, we learn that our way of talking is wrong, and then we have to memorize all of those grammar rules and stuff, but... Well, it's just that I can't stop thinking: who makes the language? Who creates the rules and the way of talking? It's the people, right? The people who really uses the language is the one who owns the language itself. Not the other way around! Cause we seem to be dominated by the rules like that! And yeah, you can say that those rules only exist to make it easier for us to write and all that, and that we have to have a model do follow and stuff, but...
Oh, what the heck... I want to be a jornalist and I'm here, complaining about the language that I'll use to pass my ideas. Cause I have to admit, it's so weird when I see a portuguese mistake on a journal, newspaper, whatever. And I have this crazy behavior of looking for it, so why am I saying all of those things?
Well, that's a more complicated question. Or not. Earlier today, I was talking to a friend of mine about our priorities in life -and about how we are doing less than we can. We are not taking ourselves seriously, you know... We don't study, we don't read, we just wanna have fun, and I guess we're just wasting all of our potencial. And I know we do have potencial, cause we're here, right now, at a very good center of study. At least, I'm talking for myself...
And then, I noticed something weird; well, I critize when people judge other people mistakes, like I said before, but now, I'm the one making a lot -and when I say a lot, is a lot -of mistakes. And I feel terrible for it! I feel lousy, really! So, other people can make mistakes, but I can't?
That is weird.
A strange way of thinking, actually. So what should I do?
I was always the person who speaks a correct portuguese... My own mother says that I'm like her grammar or something! But now I'm doing all of these mistakes, and I have no idea what happened! I just forgot all of the rules? Those same rules that I said that are kind of useless and restraining?
And I feel bad about it. Cause, deep inside, I want to speak correctly. I mean, who doesn't?
And that's important. Maybe those rules are not that useless, anyway...
Shit. I'm having this stupid "crise existencial" and yet, I know my life's great right now. It just feels right, you know... It's like, all the places I have been, all the things that I've been through and all the people that I've met, they were all parts of the journey that would get me to this very specific moment. To this place. With those people. In this city.
And why am I writing in english? Well, let's put in that way: guess I'm having some problems with my own language.
And I hope this is something that I'll use as a lesson.
Maybe I'll start studying now...
Or not. ;)
And I'm sure there's a lot of english mistakes as well...
But you know what?
I. don't. care.

Wednesday, October 01, 2008

"Barbárie não se anistia"

"Para Paulo Cunha, professor de História Política da Unesp, as críticas contra a postura do ministro Tarso Genro não têm base:
'Não é verdadeiro o argumento de que uma revisão da Lei da Anistia trará instabilidade institucional ou golpe. Ao contrário, a impunidade foi o maior legado da ditadura militar e representa a maior ameaça à consolidação da democracia.'
A herança transformou o Brasil num país dividido e desigual: de um lado um Estado policial para os pobres; de outro, um Estado democrático de direito para os ricos, que usam um sistema jurídico falho e elitista para manter seus privilégios.
Falando a jornalistas no meio de agosto, o juiz Fausto Martin de Sanctis, responsável pelo processo contra o banqueiro Daniel Dantas, declarou:
'O Brasil é o segundo país mais violento de mundo, depois de Serra Leoa. Por quê? Só tem um motivo: impunidade.'"
Bruno Versoleto, "Países que puniram ficaram menos violentos"
Caros Amigos, setembro de 2008.