Tuesday, January 29, 2008

A suposta ajuda

Deixei o gravador reproduzir suas tão recentes palavras que até pareciam eco. Ele se ouviu, maravilhado, acenando a cabeça em constante anuência. No fim, reforçou ordem com ordem:
-E não quero esse italiano a escutar as palavras. Ouviu? Ainda não confio cento por cento nesse fidamãe.
-Mas pai, esse italiano nos está ajudar.
-A ajudar?
-Ele e os outros. Nos ajudam a construir a paz.
-Nisso se engana. Não é a paz que lhe interessa. Eles se preocupam é com a ordem, o regime nesse mundo.
-Ora, pai...
-O problema deles é manter a ordem que lhes faz serem patrões. Essa ordem é uma doença em nossa história.
Dessa doença, segundo ele, se refazia em nós essa divisão de existências: uns moleques dos patrões e outros moleques dos moleques. A aposta dos poderosos -os de fora e os de dentro -er uma só: provar que só colonizados podiámos ser governados.

"O último voo do flamingo", Mia Couto.
Soldado americano no Iraque.

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