Thursday, January 03, 2008

O ser mulher

Ninguém pode negar as conquistas da mulher nas últimas décadas. De dona de casa, passou à profissional de carteira assinada, conseguiu o direito de votar e ainda liberdade na escolha sexual. Todas essas conquistas, porém, são relativas, e a mulher segue lutando e andando em um perigoso caminho: o da negação dela mesma e da sua feminilidade.
A luta pela igualdade entre os sexos é antiga, mas suas vitórias são recentes. Por ser um problema estruural, porém, é uma questão que leva tempo e que deve ser conduzida com cuidado. Sendo a sociedade patriarcal e machista, a luta feminista ainda acaba sofrendo influências de mesmo caráter, levando a vitórias, portanto, que apenas mascaram a manutenção das condições de vida. Seguindo esse caminho, a mulher passou por duas transformações das mais perigosas, que precisam ser reconstruídas.
A primeira está na igualdade propriamente dita. Forçada a tomar decisões para se igualar ao homem devido à necessidade de concorrer com este imposta pela sociedade capitalista, a mulher acabou deixando de lado aspectos característicos de seu sexo. Passou por um processo de "masculinização", por assim dizer, vestindo-se e até mesmo se comportando como o homem. A questão de gênero, portanto, passou a ser didática na medida em que a mulher conseguiu essa falsa igualdade.
A segunda transformação é mais complicada, pois, na verdade, refere-se a um fenômeno que acompanha a mulher desde a antiguidade. É a tentativa de se diferenciar do sexo oposto através da feminilidade. A mulher acaba, mesmo que inconscientemente, tornando-se o estereótipo feminino imposto pela sociedade consumista e machista. Ela começa a relacionar feminilidade com maquiagem, vestidos e sapatos altos, sem saber que ser mulher é algo mais profundo e inerente do que esses acessórios.
Mesmo tendo tomado os apectos já citados, a luta feminista não apenas pode, mas deve continuar. A desconstrução dos valores alienantes e sua posterior reconstrução deve passar pela análise de cada um sob um ponto de vista crítico. A questão está em saber ser mulher sem ter que negar-se.
A mulher pode, de fato, representar uma concorrência acirrada ao homem através do estudo e da emancipação, e não se masculinizando. Manter-se mulher, entretanto, não significa assumir o cor-de-rosa e o salto agulha; ser mulher é ser inteligente com emoção, é ser a mãe que também briga, é ser a luta dos oprimidos, é ser bela sem ser objeto sexual, é ser vaidosa sem ser alienada. Ser mulher é isso.

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