Monday, June 09, 2008

Podres poderes

Enquanto os homens exercem seus podres poderes, motos e fuscas avançam os sinais vermelhos e perdem os verdes... somos uns boçais. Queria querer gritar setecentas mil vezes como são lindos os burgueses e os japoneses, mas tudo é muito mais.
Será que nunca faremos senão confirmar a incompetência da América católica, que sempre precisará de ridículos tiranos? Será que essa minha estúpida retórica terá que soar, terá que se ouvir por mais mil anos?
Enquanto os homens exercem seus podres poderes, índios e padres e bichas, negros e mulheres e adolescentes fazem o carnaval. Queria querer cantar afinado com eles, silenciar em respeito ao seu transe, num êxtase, ser indecente... Mas tudo é muito mau.
Ou então cada paisano e cada capataz, com sua burrice, fará jorrar sangue demais nos pantanais, nas cidades, caatingas e nos gerais. Será que apenas os hermetismos pascoais e os tons e os mil tons, seus sons e seus dons geniais nos salvam, nos salvarão dessas trevas e nada mais?
Enquanto os homens exercem seus podres poderes, morrer e matar de fome, de raiva e de sede são tantas vezes gestos naturais. Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo daqueles que velam pela alegria do mundo, indo mais fundo; tins e bens e tais.
"Podres poderes", Caetano Veloso.

1 comment:

Alice Agnelli said...

ah, eu gosto de caetano.