Friday, March 07, 2008

Todo dia é dia da Mulher

Não me passou pela cabeça, quando escrevi meu romance (Banat Al-Riyadh), que ele seria lançado em qualquer outro idioma que não o árabe. Não achei que o Ocidente fosse se interessar por ele. Sinto, como sentem muitos outros sauditas, que o mundo ocidental ainda nos vê com uma perspectiva romântica, como a terra das Mil e uma noites, lugar onde xeiques barbudos se sentam sob tendas cercados por suas belas odaliscas; ou, com um olhar político, como a terra onde nasceram Bin Laden e outros terroristas, o lugar onde as mulheres se vestem de preto da cabeça aos pés e onde cada casa tem um poço particular de petróleo no quintal! Por isso, eu sabia que seria muito difícil, talvez mesmo impossível, mudar esse clichê. Mas o sucesso do meu livro no mundo árabe foi suficiente para me marcar como um membro da sua sociedade intelectual, o que me conferiu algumas responsabilidades. Além do mais, nascida numa família que valoriza outras culturas e outros países e sendo saudita orgulhosa que sou, senti ser meu dever revelar um outro lado da vida do meu país ao mundo ocidental. A tarefa, porém, não foi nada fácil.
(...)
Espero que, quando acabar de ler esse livro, você diga a si mesmo: "nossa, essa é uma sociedade islâmica muito conservadora! Nela, as mulheres vivem sob o domínio masculino. Mas, apesar de tudo, são cheias de esperança, planos, resoluções e sonhos. E se apaixonam e desapaixonam perdidamente como qualquer outra mulher."
Espero também que você veja que, pouco a pouco, essas mulheres começam a construir seu próprio caminho -não o caminho ocidental, mas um outro que conserve o que existe de positivo nos valores da nossa religião e da nossa cultura, embora admita reformas.
Prefácio da autora, Rajaa Alsanea, em "Vida dupla: um romance sobre o Oriente Médio hoje".

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