Monday, February 09, 2009

Tempo de partido, de homens partidos

"Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!

Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras,
irritadas, energéticas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir."

"Nosso tempo", Carlos Drummond de Andrade.

Será que é justa essa tarefa que nós nos demos? Será que é possível, será que é viável? E digo "justa" antes de tudo porque, para ser o que pretendemos ser, a vida que nos pertence não será mais nossa; será uma vida coletiva, uma vida externa a nós mesmos. Então, isso é justo?
Talvez seja; e justo em nome dos outros que não têm voz. Mas, novamente, quem somos nós para nos apropriarmos assim das vidas alheias? Será uma forma de compensar a nossa própria falta de vida? Aquilo que eles, donos das vidas que nos apropriamos, roubaram de nós?
É justa a tarefa, nós a escolhemos. E quem sabe não haja essa falta de vida que falei, apenas vidas demais em uma pessoa só. Aquilo de tomar a dor do mundo para si. E colocá-la nas costas, carregando-a como um fardo obrigatório. E quase nos esquecemos que, antes de tudo, foi opcional. A vida opcional daqueles que vivem para falar da vida dos outros. E sentir por todos.

1 comment:

Anonymous said...

Devo dizer que um sorriso inevitável tomou meus lábios quando li essas indagações. É uma pena você as ter respondido, mas mesmo assim, as respostas são contundentes.

Alio-me a ti nessa jornada.

Té mais.