Thursday, July 23, 2009

Evolução de um sorriso

Eu me perdi em fotos antigas hoje. Em cada uma delas, aquele sorriso contagiante, os olhos de pura felicidade voltados para mim como se, de fato, me vissem... E os sonhos, os cheiros, as texturas de cada um daqueles momentos me invadindo como se eles tivessem acontecido ontem. Como se meu show particular ainda estivesse em cartaz.

Como era fácil. E estou parecendo um velha nostálgica agora ao pensar em todas as diferentes pessoas que já fui, criticando alguns comportamentos, invejando outros que se perderam no caminho. Em como era fácil não precisar de ninguém. Era fácil ter a atitude arrogante que sempre tive diante das outras pessoas, gritando com o meu olhar que aquele era, de fato, um show só meu, um palco que eu não dividiria com mais ninguém. E ao pensar em todas as máscaras que já usei...

Hipócrita ou mesmo arrogante? Não, apenas criança. Hoje eu tenho medo, e a insegurança é minha companheira constante em todas as coisas que faço. E vulnerável, confesso. Não sou tão forte quanto eu achava que era, e como meus pais ainda acham que eu sou. E agora eu sei chorar, algo que eu nunca soube. Mas, ao mesmo tempo, como é que consigo ser tão decidida em relação ao que quero da minha vida? Ah, um dos meus dramas. Igualzinho às peças de teatro que fazia com minhas amigas diante de pais entediados. E contradições.

Às vezes, tenho a impressão de que aquele sorriso me deixou. Talvez eu tenha vergonha de deixar que ele distorça os traços do meu rosto, ou talvez eu agora tenha apenas um sorriso meio torto. Não importa. Eu sei que não é fácil de repente se importar com o mundo ao seu redor, e talvez seja por isso que eu tenho esses surtos de isolamento. Mas... é tão melhor. Com todas as dúvidas, com todo o medo, é melhor viver assim, de verdade, em carne e osso, longe dos palcos e das fantasias. E é por isso que olho para aquelas fotos e dou o meu sorriso torto: eu sei que ele vale bem mais do que o antigo sorriso cheio.

3 comments:

Tulio Bucchioni said...

nossa clare, que bonito, é um trecho de algum livro??

beeeeijos!

Du Graziani said...

graças a Deus a gente cresce, dói, mas no fim das contas é tão melhor !!!!

saudade.

Maria Joana said...

"E estou parecendo um velha nostálgica agora ao pensar em todas as diferentes pessoas que já fui, criticando alguns comportamentos, invejando outros que se perderam no caminho."

lindo, clare, como o túlio disse. não é de espantar que se pense num trecho de livro ao ler isso.
é preciso coragem, mas... concordo:

"Mas... é tão melhor. Com todas as dúvidas, com todo o medo, é melhor viver assim, de verdade, em carne e osso, longe dos palcos e das fantasias."