Thursday, March 12, 2009

Algumas considerações sobre o Jornalista

Por que é tão importante correr tantos riscos para reportar de zonas de guerra?
Pelo bem da História e também para que as pessoas, no futuro, não possam nunca dizer, como disseram no Holocausto, "nós não sabíamos. Ninguém nos disse". Nós escrevemos sobre o Oriente Médio simplesmente para que as pessoas saibam o que está acontecendo lá.

Vice Magazine, 2007. Robert Fisk

Concordo com isso; as pessoas têm que saber sobre as coisas que acontecem no mundo. Acho, porém, que isso já não é mais o suficiente. Já se passou o tempo em que a informação era altamente valorizada - justamente aquele tempo em que conseguí-la era extremamente difícil. Agora estamos na época da vulgarização da informação, da sua banalização, do "ouvir e descartar" ao invés do "ouvir e armazenar". Quem hoje armazena informação é o computador, não mais as pessoas. Elas estão acostumadas com esse "hardware externo".
Assim, não sei se é mais suficiente apenas escrever para que as pessoas saibam sobre o que está acontecendo. Até porque, de uma forma ou de outra, as pessoas ficam sabendo das notícias do mundo -já que estão inseridas nessa nossa sociedade altamente midiática. Começo a questionar, portanto, se o papel do jornalista é justamente esse, o de apenas informar. E, levando em conta o próprio Fisk, acredito que todo jornalista deve ter o mínimo que seja de ativismo em sua profissão. Não apenas informar por informar, para que as pessoas saibam e não possam dizer que não sabiam - até porque hoje as pessoas sabem, não dizem que não sabem, e continuam a não fazer nada. Mas também exigir, questionar, talvez até impressionar um pouco, para que as pessoas possam acordar desse estupor em que se encontram.
Ou será que é preciso que algo bem chocante e monstruoso aconteça para que elas acordem? Mas a morte de milhares de pessoas por causa da AIDS na África do Sul não é chocante o suficiente? Será que o genocídio de cristãos no Sudão e o apoio que parte da população dá ao seu "presidente" não é monstruoso? E os atentados diários no Iraque? E a repressão das mulheres em todo o Oriente Médio? E a corrupção constante da democracia em tantos países da América Latina? E a dominação do Tibet? E a existência de tantos famintos m um planeta que joga fora toneladas de alimentos todos os dias?
A questão é que apenas o que parece chocar são os novos problemas, e não esses velhos. Todos estão acostumados com esses eternos flagelos da humanidade. Apenas quando eles se alastram para as áreas consideradas pacíficas e ideais é que as pessoas acordam. Como erroneamente fizeram nos Estados Unidos pós-11 de Setembro. E como estão erroneamente fazendo na Europa cheia de imigrantes ilegais.
E é aí que entra a informação. Ou a falta dela, já descartada. Ou o excesso, de forma superficial. E é aí que também entra o jornalista. O jornalista/ativista. O jornalista não passivo, que apenas colhe as informações e as repassa; mas sim ativo.

O jornalismo, ser repórter, é como uma missão de vida para você?
Penso que o jornalismo deve ser uma vocação, não apenas um emprego como trabalhar em um banco ou servir café. Se o seu objetivo é apenas ganhar dinheiro, pagar as contas, comprar casas e mandar as crianças para a escola, então você não fará o seu trabalho de maneira correta. O medo de ficar desempregado estará sempre à sua volta. Para fazer um bom trabalho é preciso dizer: "Isto é mais importante do que ganhar dinheiro". Um milhão de pessoas estão lendo o que você escreve - tomara!... Você é responsável por fazer a coisa certa, por transmitir a realidade do que está acontecendo, mesmo que as pessoas não gostem de você e do seu trabalho. Essa não é uma relação mercadológica.

O que você acha sobre a afirmação de que para ser um bom jornalista é necessário ser parcial, assumir uma posição?
Eu não acho que você precisa assumir uma posição. Acho que o jornalista tem que simpatizar com as pessoas oprimidas, com os que estão sofrendo e com as vítimas das injustiças. As pessoas dizem: "Você tem que ser objetivo". Não tem! Se você estivesse noticiando o tráfico de escravos no século 18, não daria espaço igual ao capitão do navio negreiro; se estivesse presente na liberação dos prisioneiros de um campo de concentração nazista, não daria espaço igual aos representante da SS, você entrevistaria os judeus sobreviventes que quase morreram lá. (...) O Oriente Médio não é um campo de futebol, é uma tragédia humana em massa e acho que os jornalistas deveriam enfatizar e mostrar o sentimento deles pelas pessoas que são as vítimas, incluindo os israelenses.
Caros Amigos, 2007. Robert Fisk.

1 comment:

Alice Agnelli said...

a entrevista com o Robert Fisk da qual vc tirou esse trecho foi uma das que me fez falar: caralho, é isso. eu quero ser jornalista.

e posso te dar a certeza de que esse não era o objetivo da pessoa que fez esse texto cair nas minhas mãos. era totalmente oposto.