Wednesday, May 14, 2008

Divergências na prática jornalística

A objetividade, porém, não é uma característica facilmente encontrada em uma profissional do Jornalismo e em seu trabalho. Na verdade, encontrar um texto objetivo –e isso quer dizer que são considerados os aspectos atrelados a esse conceito, tais como a veracidade, a imparcialidade e a exatidão –é uma tarefa praticamente impossível, já que a prática jornalística acaba diferindo em partes do que o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros institui e do que a maioria dos teóricos fala sobre ela própria.
Considerando, porém, a natureza humana e toda a sua complexidade, não é difícil de entender o porquê de certos teóricos considerarem a objetividade/imparcialidade apenas um mito, e não uma prática do Jornalista. O próprio Juarez Bahia fala sobre as dificuldades de se conseguir realizar um trabalho objetivo e imparcial e de alguns obstáculos para isso, como a formação cultural –característica inerente ao ser humano –e a arrogância do profissional de jornalismo.
José Marques de Melo, autor de “A questão da objetividade no jornalismo”, ainda diz que, mesmo que a objetividade esteja ligada à fidelidade com que o jornalista retrata a realidade, na prática, ela se torna um "mecanismo de síntese", sendo que a "objetividade se converteu em sinônimo de verdade absoluta e é vendida como ingrediente para camuflar a tendenciosidade que existe no cotidiano dos veículos de comunicação".
A questão é que, ao trabalhar com uma empresa ligada à divulgação de notícias, o jornalista está também se comprometendo com os anunciantes de tal empresa, sendo esta sujeita, obviamente, às leis de mercado. Assim, a exposição de fatos e acontecimentos que contrariem esses anunciantes não é tolerada, fazendo com que o jornalista deixe de lado seu dever de retratar tudo aquilo que seja de interesse da sociedade para dar prioridade aos interesses dos patrocinadores. Os proprietários de grandes empresas de comunicação não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, definem sua linha editorial e os jornalistas que trabalham nelas a cumprem.
Há também outra questão importante, que é a da corrupção. Através de propinas, o jornalista e a empresa pra qual trabalha são levados a “ignorar’ certos acontecimento políticos e públicos ou a olhar “com bons olhos” certos fatos que exigiriam uma visão crítica mais aguçada e uma maior apuração.
Não é apenas, porém, por causa de questões moralmente contrárias à ética jornalística citadas acima que a objetividade se torna tão difícil na prática. O caso é que, para qualquer ser humano, deixar de lado suas convicções e ideologias, bem como seus valores morais conquistados e construídos durante toda a sua vida, é algo, se não impossível, improvável de ser conseguido. Portanto, as opiniões do jornalista sempre acabam influenciando no modo como ele vê e noticia os fatos, quer ele seja mais ou menos tendencioso.
Ao selecionar fatos comuns para serem noticiados, o jornalista já está usando também seus valores e sua vivência pessoal para saber o que é de interesse público ou não. Acaba usando também suas opiniões políticas e sociais, já que, como qualquer outro cidadão, ele também está incluído na vida política do país e nos acontecimentos que tomam como palco o grupo social em que está inserido.
Analisando o que José Marques de Melo falou e levando em consideração o que a maioria dos teóricos diz sobre a relação do jornalismo com a objetividade e ainda o famoso mito de que o jornalista apenas deve transmitir os fatos, enquanto que a pessoa a quem ele é transmitido é que deve formar suas próprias opiniões, os profissionais se utilizam de muitas técnicas para transparecer imparcialidade. O tratamento impessoal é a principal delas, fazendo parecer que o que está ali relatado não foi observado e formulado por uma pessoa, mas sim que são as próprias informações verídicas em si, isentas de opinião.
Mesmo aparentando objetividade, porém, o jornalista muitas vezes se utiliza de imagens, gráficos ou mesmo do texto falado ou escrito para transmitir o fato a partir de seu ponto de vista ou do ponto de vista de sua empresa, marcando uma matéria tendenciosa. O público, entretanto, enganado pela áurea de imparcialidade envolta no jornalista, acaba assimilando as informações já direcionadas a uma forma de pensar sem saber que, na verdade, não foi ele que formulou aquelas conclusões. O jornalista, obviamente, se aproveita dessa situação, fazendo da mídia um importantíssimo formulador de opiniões de interesse público ou não, já que fatos que não interessariam à sociedade em geral são elevados a uma dimensão de grande importância.

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