Wednesday, April 09, 2008

O mal do homem

"Por que as pessoas são tão cruéis?"
"Ódio. Loucura, não sei..."
Continuando, então. E eu gostaria de dizer que talvez meus pensamentos tomem um rumo diferente daquele que seria originalmente se eu tivesse continuado a escrever na segunda -que foi o dia do Jornalista, a propósito. É que só fui ler a Veja dessa semana hoje -tarefa que fico adiando o máximo possível por razões que, acho, já são bem claras para qualquer pessoa que me conhece.
Para quem não leu, a revista, em sua matéria de capa, culpa todos -ou quase todos -os atos humanos ligados a genocídos, mortes, torturas, etc, à maldade. Hmm, meio maniqueísta, devemos concordar. Deixando meus preconceitos à parte -algo que é impossível de se fazer, mas tudo bem... -, há um rápido comentário sobre a guerra civil de Ruanda, falando que a "psicopatia (...) é um distúrbio raro. Não explica o mal em grande escala – genocídios como os que ocorreram na Bósnia ou em Ruanda nos anos 90, por exemplo."
Hmm, ok. O problema é que eu não consigo ler a Veja sem ver um defeito ou sem esperar achar um, na verdade. Ou seja, eu não consigo ler esse trecho sem achar que, por trás disso, há uma clara mensagem falando que os hutus são malvados. Outra neurose minha, aliás, porque eu também não consigo deixar de pensar naqueles filmes da Disney, com a bruxa malvada e a princesa pura, toda vez que a palavra "mal" é mencionada.
Mas existe realmente o mal? Bem, a revista -ou o jornalista, no caso -insiste que sim... E o pior é eles montaram uma matéria tão bem bolada, cheia de exemplos, de nomes famosos, de pensadores, de Satanás, Igreja, etc, etc, que você fica na dúvida quando acaba de ler! Sim, os ladrões, os assassinos, os hutus, os bôsnios, os soldados americanos de Abu Ghraib, a mãe que jogou a filha no rio... Malvados, malvados, malvados, todos eles! E não se esqueça que "Contrariando as ilusões de certo humanismo que acredita na possibilidade de reeducar qualquer criminoso, indivíduos assim são irrecuperáveis.". Ou seja, joga todo mundo na cadeia. Ou mate logo, já que eles têm a "natureza cega do mal".
Deixando as brincadeiras de lado, acho que é muito cômodo jogar a culpa em cima de um "distúrbio" irrecuperável como a maldade. Afinal, desse modo, a culpa de certas pessoas agirem de certos modos acaba se deslocando do externo para o interno. Claro que a revista não pára por aí, ela fala também de certos estímulos do meio, bem como situações, que meio que acordam esse lado malvado em algumas pessoas. Entretanto, só em insistir no mal em si é, para mim, uma atitude ingênua. Ou esperta, a depender do seu ponto de vista.
De qualquer jeito, como eu ia falando no outro dia, pode ser que pareça que eu pense exatamente a mesma coisa que a revista aos olhos de quem leia isso, mas acho que há uma diferença fundamental entre ódio e maldade. Ao meu ver, o ódio é uma consequência que pode ser causada em qualquer pessoa, enquanto que a maldade parece ser um sentimento ou um estado de mente por si só, encerrado em si mesmo e sem mais explicações. Não sei se estou me fazendo entender... Mas é que falar que os hutus mataram tantos tutsis só por maldade parece ser um trecho de uma história infantil! Os hutus só mataram porque são malvados -ou cruéis... Isso, qualquer criança entende e acha perfeitamente compreensível, mas eu não; o mundo é muito mais complexo do que isso. Você falar, porém, que os hutus mataram tutsis porque sentiam ódio deles já é uma outra história! Citando o diálogo do filme, as pessoas são cruéis porque sentem ódio, e não porque são malvadas! Afinal, crueldade e maldade são sinônimos, certo? Ou seja, as pessoas se tornam malvadas porque sentem ódio!
E que se excluam os casos de psicopatia, como eu já tinha falado na segunda-feira. Melhor: vamos igualar psicopatia à loucura, e então teremos um diálogo mais fantástico ainda no filme.
"Por que as pessoas são tão malvadas?"
"Ódio. Psicopatia, não sei..."

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