Monday, November 16, 2009

Réverie

Escrito há mais de um ano em meu diário.
Engraçado como as coisas podem parecer tão distantes depois de tão pouco tempo...
E que as coisas que nos abalavam parecem até engraçadas também, quando elas já não nos abalam mais!
Acho que apenas estou falando que não existem opções erradas
.

Aquela sala. Tudo tão iluminado, mas não tão nítido assim. É como se houvesse uma névoa. Como se minhas memórias tivessem se transformado em sonho.

O sol alto no céu por trás da grande janela.
Um piano ocupando uma parede, escuro. As notas cristalinas como gotinhas de água.
É assim que imagino as notas em minha mente, gotinhas de água muito transparentes e muito brilhantes, pingando não sei onde. A primeira vez que pensei nisso foi quando eu era muito pequena e eu e minha irmã estávamos checando algum cd-rom quando "Clair de Lune", de Claude Debussy, começou a tocar. Depois disso, não consigo pensar em outra coisa: cada nota é uma gotinha. Uma valsa é chuva , uma berceuse é um leve chuvisco... Beethoven sempre foi tempestade, independente da velocidade da música. Mas Debussy é aquele que me faz imaginar as gotinhas mais delicadas e cristalinas.
E é assim, como em sua "Réverie"; é em devaneios que me perco ao pensar naquela sala. E eu estou lá também, sentada no chão, olhando para a janela. Imóvel. Estranhamente, me imagino com o uniforme da escola. E estranhamente penso que estou pensando em ir embora. Como eu sempre fiz. Ir embora quando as pessoas começam a me conhecer a ponto de saber meus defeitos. Ou ir embora para evitar esse contato tão íntimo que sempre temi. Naquela sala, estou pensando em ir embora para ser outra pessoa.
E eu penso na frase estonteante dele. E penso no olhar reprovador dela. Ele me ama, mas não teve a coragem de dizer na minha frente. Ela me ama e teve a coragem de me mostrar friamente todos os meus segredos desvendados...

Fugi disso tudo. De um louco e de uma amiga. Fugi também da minha família e das gotas cristalinas do meu piano. Mas não virei outra pessoa ao fugir, bem como também perdi os escapes que eu tinha. Não tem como eu ir embora agora. Acho que, enfim, fui obrigada a enfrentar os meus medos.


1 comment:

Du Graziani said...

Li o post escutando a música. Devo confessar que a imagem da janela é muito forte. Imaginei perfeitamente a situação, tal qual ela se passa na mnha cabeça, muito certamente diferente da sua imagem.

Não tenho objeções pra fazer. Seu texto é corrente, fluido, facil, leve como as gotas que vc faz referência.

Continue assim e com mais frequencia.

Bjo