Sunday, December 24, 2006

África esquecida


Aids. Guerras civis. Corrupção. Fome. Morte. Essas são apenas algumas das dificuldades que afligem a África, continente que, por suas dimensões e recursos naturais, deveria ocupar papel decisivo no cenário mundial. A realidade, porém, é outra: nem por suas riquezas nem por suas chagas a África é lembrada, e assim ela permanece, agonizante. É um continente esquecido.
Na África, estão os países mais pobres do mundo: Moçambique, Etiópia, Namíbia, etc. A situação não é apenas ruim, é desesperadora: no Congo, apenas um em cada cinco bebês chega aos 5 anos; na Nigéria, 90,8% da população vive abaixo da linha de pobreza; em Serra Leoa, a expectativa de vida é de 37 anos; em Ruanda, a guerra civil já deixou milhões de mortos e refugiados; na África do Sul, 5,5 milhões de pessoas tem HIV+.
Apesar de tudo, a mídia, as pessoas, os governos e as instituições não parecem se importar com a situação africana. O caso do brasileiro morto em Londres em 2005, Jean Charles de Menezes, por exemplo, continua na mídia no Brasil após praticamente um ano do acontecido. Não desmerecendo a situação, a morte de um indivíduo parece comover mais as pessoas do que a de milhões no continente africano.
Talvez seja a não-identificação com os africanos a causa da falta de interesse coletivo. Por causa das distâncias geográfica e social, as diferenças de um país como o Brasil com a África se agravam, ainda mais quando os africanos são rotulados de selvagens. Nem mesmo isso, porém, justifica o ato de ignorar os horrores acontecidos na África.
A diferença e a distância, entretanto, acabam rapidamente quando os interesses dos magnatas, sejam europeus ou americanos, são despertados pelas descobertas de minas de diamantes ou outros recursos minerais no continente africano. Nessas ocasiões, também o silêncio é mantido em relação à África. Quando não, surgem pseudo laços de amizade e de preocupação social entre o país ambicioso em questão e a região africana. Pode-se dizer, então, que enquanto as riquezas minerais e as questões econômicas são globalizadas, os problemas e conflitos sociais continuam particulares.
O comprometimento com a África não deve ser ligado com valores econômicos, mas sim, humanitários. É praticamente um genocídio permitir que o continente permaneça na atual situação. Esse comprometimento se torna ainda mais obrigatório para os europeus, principais colonizadores, por causa das fronteiras remanescentes do imperialismo do século XIX, causadoras de tantos conflitos. A obrigatoriedade permanece ainda pelo fato de que seres humanos estão sendo dizimados por epidemias de Sida/Aids ou apenas por serem de uma outra etnia. Afinal, acima de tudo, estão as vidas –em risco -dos africanos.
Encontrar uma solução para os problemas africanos não é fácil. Agora, entretanto, não é o momento de pensar nessa questão; é o momento de chamar a atenção das pessoas para as dificuldades da África. Em outras palavras, é preciso uma conscientização geral, e não apenas dos civis e dos popstars de todo o mundo, mas também –e principalmente -dos governos e instituições. Depois de dado esse passo, ai sim será a hora de se reunir não mais para tolerar, mas para curar as feridas africanas.
Pense nisso...

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