Mahmud Darwish
Escreve!
Sou árabe.
(...) As minhas raízes foram criadas antes do inicio dos tempos,
antes do nascimento das eras,
antes dos pinheiros e das oliveiras.
Antes que tivesse nascido a erva.
(...) Escreve!
Sou árabe.
Roubaste os pomares dos meus antepassados
e a terra que eu cultivava com meus filhos;
não me deixaste nada, apenas estas rochas.
O governo vai tira-me as rochas, como me disseram?
Escreve, então no alto da primeira página:
a ninguém odeio, a ninguém roubo.
Mas, se tiver fome,
Devorarei a carne do usurpador.
Tome cuidado!
Cuidado com minha fome,
cuidado com a minha ira!
Afinal, o fundamentalismo muçulmano não é algo que surgiu espontaneamente; a meu ver, ele é a resposta que os árabes encontraram para superar todos os fracassos políticos, sociais e econômicos que eles vêm sofrendo já há alguns séculos. Esses conflitos, aliás, tiveram como uma das várias razões a invasão ocidental no Oriente Médio, um processo simultâneo ao "fracasso" árabe que perdura até hoje.
Há questões internas também, é claro, como a grande quantidade de etnias de culturas e religiões diferentes -ou não -presentes na região. Mesmo esse ponto, porém, apresentou um agravamento por causa dos ocidentais, já que, durante o processo imperialista, minorias étnicas foram fortalecidas pelos invasores para favorecer a invasão e facilitar o controle das regiões -prática também presente na África. Após as independências, essas minorias passaram a exercer os governos em áreas extremamente heterogêneas.
Como eu estava dizendo antes, porém, o fundamentalismo é uma reação principalmente à modernidade -não representa, entretanto, uma oposição direta a esta, já que se utiliza da própria modernidade para crescer e agir em todo o mundo. Após muitas invasões, tentativas de independência, de democracia e de crescimento econômico e até de uma revoluçâo islâmica (Irã, 1979, liderada pelo aiatolá Khomeini), os muçulmanos finalmente partiram para o radicalismo religioso (já que o secularismo não dera certo). Estavam humilhados, isolados do resto do mundo, explorados e rebaixados em sua própria crença. E logo o vasto império muçulmano, que florescera e representara a própria modernidade na sua Idade de Ouro...
E, agora, lá estão os ocidentais novamente invadindo o Oriente Médio, matando-o mais, humilhando-o mais, explorando-o mais uma vez. Não é à tôa que o 11 de setembro aconteceu e que tantos atentados ainda acontecem -não justificando, é claro; explicando. Afinal -e acho que você concorda comigo -, não é por pouca coisa que um homem ou uma mulher prende uma bomba ao peito e a aciona apenas com o intuito de matar outras pessoas. Não pode ser pouco ódio, desespero e desesperança que essa pessoa sente para chegar a ponto de dar sua própria vida assim -e ódio, desespero e desesperança são reações.
Por isso, o "Tome cuidado!" é certo; para toda ação, há uma reação, ainda mais quando essa ação já dura quase um milênio...
Outro momento "Querido diário"...
Eu peguei esse poema em "Terror e esperança na Palestina", de José Arbex Jr.
Para todos que nunca leram, é um livro fantástico.
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