Eu lembro quando eu costumava brigar por tudo. Qualquer coisa que eu achasse injusta ou que me ofendesse era motivo para eu me exaltar e me defender. E costumava pôr toda a minha alma naquelas discussões.
Até que meu pai me disse para parar com isso. Aquilo estava me fazendo mal, e eu sabia que era verdade de uma maneira não apenas mental, mas física. Comecei a tomar remédios e me resignei. Deixei de ser minha mãe, sempre explosiva, para ser meu pai, calmo e conformado -e, no meu caso, dopado.
E continuo assim até hoje. Ainda mais depois daquilo -como aquilo me mudou, e de um jeito tão profundo que, em vários momentos do dia, eu não me reconheço. E me sobe uma dor tão forte na garganta depois de cada momento impróprio - e a dor é de saber que não sei mais agir daquele jeito intempestivo, que não sei mais me defender e discutir com os outros.
Sim, tem um lado bom em ser assim, mas o melhor mesmo seria um meio termo. Porque o que sou agora me abala tanto quanto o que eu era antes. Cada palavra que machuca, cada ação que fere vai se juntando como pequenas bolinhas de ferro na garganta, e no fim pesam tanto que não consigo nem chorar.
E a decepção é tanta - comigo e com os outros - que o desespero me abate às vezes.
O que eu me tornei? E o que as pessoas próximas a mim se tornaram e se tornam a cada dia com esse meu silêncio?