"'Estais vendo que mesmo vós não sabeis distinguir hereges de hereges? Eu, ao menos tenho uma regra. Sei que hereges sao os que põe em risco a ordem com a qual se rege o povo de Deus. (...) Nós a mantivemos por séculos. E, quanto aos hereges, também tenho uma regra, e se resume na resposta que deu Arnaldo Amalrico, abade de Citeaux, a quem lhe perguntava o que fazer dos cidadãos de Béziers, cidade suspeita de heresia: matai-os todos, Deus reconhecerá os seus'.
Guilherme abaixou os olhos e permaneceu um tempo em silêncio. Depois disse: 'A cidade de Béziers foi tomada e os nossos não respeitaram nem a dignidade, nem o sexo, nem a idade e quase vinte mil homens morreram a fio de espada. Feito o massacre, a cidade foi saqueada e queimada'.
'Mesmo uma guerra santa é uma guerra'.
'Mesmo uma guerra santa é uma guerra. Por isso talvez não devesse haver guerras santas'".
Guilherme abaixou os olhos e permaneceu um tempo em silêncio. Depois disse: 'A cidade de Béziers foi tomada e os nossos não respeitaram nem a dignidade, nem o sexo, nem a idade e quase vinte mil homens morreram a fio de espada. Feito o massacre, a cidade foi saqueada e queimada'.
'Mesmo uma guerra santa é uma guerra'.
'Mesmo uma guerra santa é uma guerra. Por isso talvez não devesse haver guerras santas'".
Diálogo entre dois estudiosos da teologia cristã, em "O nome da Rosa", de Umberto Eco.
E em que circunstância uma guerra é santa? E quando os dois povos e lados são de Deus, -dizem lutar por Ele, usam o nome dEle... aos olhos dEle, quem seria o lado certo, e quem seria seu?
Mas, não; mesmo sabendo que as maiores tragédias da humanidade tiveram um forte apelo e argumento religioso por trás, essa guerra atual não é assim. Não é por Alaah que o Hamas ou os palestinos estão lutando, e não é por Deus que os judeus estão lutando.
Essa, porém, não deixa de ser uma Guerra Santa. E o inimigo poderia personificar erroneamente o dito Eixo do Mal, como batizou um certo presidente americano -alegoria também errônea e ainda mais absurda a um também certo Eixo que existiu há décadas e que foi responsável pela morte de milhões de pessoas. Mas não personifica; não personifica porque a era de transformar os problemas do mundo em historinhas infantis maniqueístas já passou.
E ignorar a complexidade da situação é apenas fazer o que todos têm feito durante as últimas décadas: deixar de lado um problema latente e cada vez mais estrutural de uma região riquíssima em suas etnias, culturas e riquezas. A Guerra do Iraque e o caos posterior não estão aí por nada. A Palestina personifica, antes de tudo, o próprio Oriente Médio. E, assim como o próprio Oriente Médio, tem suas crenças e tem suas respostas infelizmente fundamentalistas. Mas, assim como todo o mundo, tem também pessoas que apenas querem viver em paz. Com uma casa. Com um emprego fixo. E sem medo de morrer no caminho ao mercado.
Mas não existe um lado inocente. Apenas muitos culpados. E centenas de vítimas.
Mas, não; mesmo sabendo que as maiores tragédias da humanidade tiveram um forte apelo e argumento religioso por trás, essa guerra atual não é assim. Não é por Alaah que o Hamas ou os palestinos estão lutando, e não é por Deus que os judeus estão lutando.
Essa, porém, não deixa de ser uma Guerra Santa. E o inimigo poderia personificar erroneamente o dito Eixo do Mal, como batizou um certo presidente americano -alegoria também errônea e ainda mais absurda a um também certo Eixo que existiu há décadas e que foi responsável pela morte de milhões de pessoas. Mas não personifica; não personifica porque a era de transformar os problemas do mundo em historinhas infantis maniqueístas já passou.
E ignorar a complexidade da situação é apenas fazer o que todos têm feito durante as últimas décadas: deixar de lado um problema latente e cada vez mais estrutural de uma região riquíssima em suas etnias, culturas e riquezas. A Guerra do Iraque e o caos posterior não estão aí por nada. A Palestina personifica, antes de tudo, o próprio Oriente Médio. E, assim como o próprio Oriente Médio, tem suas crenças e tem suas respostas infelizmente fundamentalistas. Mas, assim como todo o mundo, tem também pessoas que apenas querem viver em paz. Com uma casa. Com um emprego fixo. E sem medo de morrer no caminho ao mercado.
Mas não existe um lado inocente. Apenas muitos culpados. E centenas de vítimas.